DO CAPÍTULO GERAL DA ORDEM DOS AGOSTINIANOS
RECOLETOS
Criadores de
comunhão
• Mensagem do 55º
capítulo geral da Ordem dos Agostinianos Recoletos
Animados pelas palavras de nosso pai santo
Agostinho, “toda nossa esperança está em tua grande misericórdia, dá o que
mandas e manda o que queiras”, quarenta agostinianos recoletos vindos de
diferentes países onde está disseminada a Ordem, nos reunimos para o 55º
Capítulo Geral em Roma, de 2 a 25 de outubro de 2016.
A temperatura amena e a
chuva dos primeiros dias de outono foram prelúdio de inicio de uma nova estação
para a Ordem, tempo em que a vida se concentra nas raízes. No sossego desta
casa vivemos a experiência de homens de Deus que sobem ao Monte para
encontrar-se com seu Senhor e ver, de longe, o horizonte no qual se move a
Ordem, sopesar suas possibilidades de vida e traçar a rota da revitalização e
reestruturação. Agradecemos, sensibilizados, as numerosas mensagens e
abundantes orações. Suas palavras nos confirmaram que o capítulo não era uma
tarefa somente dos capitulares, mas de todos, para bem da Ordem e a Igreja.
Enquanto capitulares
passamos pela Porta Santa das Basílicas de São Pedro e de Nossa Senhora do Bom
Conselho para vivenciar, com a Igreja, o jubileu da misericórdia. Concentramos
nossa oração nestas palavras: que se abra para nós um tempo novo… e
não cessemos de admirar o horizonte imenso da esperança; que na reestruturação
não vejamos montanhas que nos impedem a passagem, mas a oportunidade de
explorar, conduzidos por tua mão, novas e maravilhosas rotas.
Com a alegria de sentir-nos
família e poder compartilhar uma missão que proporciona vida, enviamos esta
mensagem: aos jovens, por suas palavras e vídeos cheios de alegria e esperança,
às fraternidades seculares, por serem para nós lar de amizade, às monjas, por
sua oração constante e profunda, às religiosas, por nos recordarem a
radicalidade da entrega, aos leigos de nossos ministérios, por compartilhar
nossa missão, aos bispos, por nos convidar a sentir com a Igreja, e a todos os
religiosos, com quem compartilhamos o sonho de santo Agostinho. É uma mensagem
cheia de esperança, que supera nossas incertezas; cheia de ternura e de paz, porque
o Senhor tem sido misericordioso conosco. É uma palavra comprometedora,
consciente de que a tarefa ainda está por se realizar. É uma mensagem ousada,
própria de quem sabe que o projeto do evangelho precisa de profetas em nosso
tempo.
1. ESCUTEMOS AO ESPÍRITO
O Capítulo Geral é um tempo
de graça, de comunhão e discernimento sob a ação vivificante do Espírito, que
não cessa de falar nos acontecimentos e nas pessoas. O Espírito falou-nos na
reflexão e animação do processo de reestruturação por parte do conselho geral,
bem como no árduo trabalho das Equipes de Reestruturação e Revitalização da
Ordem. Com sua dedicação puseram em tensão e discernimento a todos seus
religiosos. Muitos sinais nos diziam que este capítulo seria especial. O
retrato da realidade e as medidas que tinham que tomadas despertaram em todos
grandes expectativas; todos esperavam que o capítulo tomasse decisões à altura
da realidade que vivemos.
O Espírito Santo também nos
falou através do magistério do Papa Francisco. O ano da vida religiosa e o
jubileu extraordinário da misericórdia têm sido um estímulo neste processo de
revitalização. O chamado à conversão pessoal, comunitária e pastoral fazem
parte de nossos projetos pessoais e comunitários. É uma interpelação a sair de
nós mesmos e ir às periferias como mensageiros da misericórdia e da alegria do
evangelho.
O Espírito manifestou-se na assembleia capitular. O Senhor
utiliza magistralmente a voz da cada um, da nossa história, da idiossincrasia e
da diversidade cultural para delinear o rosto da família e os desafios a serem
assumidos no momento presente. Ninguém se sentiu dono da verdade. Falamos com
liberdade. Se queremos um qualificativo para sintetizar o trabalho da sala este
seria a palavra beleza. Quantas coisas boas e heroicas! Quantas verdades! Por
fim, o que realmente nos apaixona do projeto de vida e missão da Ordem é a sua
beleza; a beleza da comunidade e da missão, reflexos do evangelho. É a beleza
do Espírito, sempre antiga e sempre nova.
2. CREMOS NA COMUNHÃO
Enquanto beneficiários de um dom carismático para a vida e
santidade da Igreja, nos perguntamos: quem somos e o quer o Senhor de nós neste
momento de nossa história? Não somos uma família religiosa com crise de
identidade, mas uma Ordem centenária ante o desafio da fidelidade criativa. A
assembleia, em coro, não se equivoca; dóceis ao Espírito, como barro nas mãos
do oleiro, confirmamos os grandes eixos que configuram nossa identidade. Como
agostinianos recoletos queremos ser um presente para a Igreja e para a
humanidade de hoje, sendo: discípulos do único Mestre,
construtores de comunidade, amantes da interioridade, buscadores da Verdade,
servidores da Igreja e profetas do Reino.
Com gratidão, recordamos o primeiro impulso da recoleção. Não
podemos perder o vínculo carismático com os frades insatisfeitos que quiseram
“se distinguir no serviço do Senhor”. A fidelidade criativa nos pede que
traduzamos para nosso tempo os ideais da Forma de Viver: combinar na comunidade religiosa a
austeridade de vida e a oração intensa e contínua com o apostolado ardente. Não
faltam exemplos que confirmam que esta é realidade; e, por isto, com alegria
celebramos o reconhecimento das virtudes heroicas de nosso irmão Dom Alfonso
Gallegos, apóstolo da juventude.
O Papa Francisco nos tem dito o que devemos destacar neste
momento: ser “criadores de comunhão”. Com nosso
depoimento de comunidade viva e aberta ao que nos manda o Senhor, através do
sopro de seu Espírito, poderemos responder às necessidades de cada pessoa com o
mesmo amor com que Deus nos amou. Tantas pessoas estão à espera que saiamos ao
seu encontro e as olhemos com essa ternura que experimentamos e recebemos no
nosso diálogo com Deus. Este é o poder que levamos; não o de nossos próprios
ideais e projetos; mas a força de sua misericórdia que transforma e dá vida.
A fidelidade criativa ao Espírito vai para além de termos
sido chamados por Deus a segui-lo mais de perto; com gratidão e admiração
contemplamos milhares de leigos que se incorporam à família agostiniana
recoleta, fraternidades e juventudes que encontram no testemunho decidido e
claro dos religiosos a chama que expande o lume carismático da recoleção
agostiniana.
3. GUIADOS PELA PALAVRA
A Ordem intensifica sua oração convicta de que o novo só pode
vir da relação íntima com o Senhor. Nosso projeto de vida e missão é um
programa pessoal e comunitário de revitalização, uma lectio divina para
peregrinos seduzidos pelo Sonho de Deus. Queremos que seja Ele a nos impor o
estilo, o ritmo e, com sua Palavra, nos determine a rota da nossa vida. Por
isso fazemos memória do que Ele fez com o povo da Aliança, iluminando suas
noites escuras e guiando seus passos.
Sai de tua terra. Como com Abraão, o Senhor nos convida a
sair, a nos pôr a caminho, deixando nossa terra, o conhecido, nosso espaço de
segurança e conforto (cf. Gn 12). Sair para enfrentar novos
desafios e vivenciar novas experiências. Sair ao encontro de outros para
afastar nossa olhar de nós mesmos. Custa-nos dar o primeiro passo em nosso
longo percurso; nos afloram todas as resistências: “mas, já sou velho”, “estou
bem e faço o bem onde estou”, “deixem-me sossegado”. O Senhor insiste: “sai de
tua terra, põe-te a caminho, deixa-te surpreender, dirige-te à terra que te
mostrarei”. Sai, não calcules teus passos nem teus dias, nem sintas falta dos
bons momentos, nem dos irmãos que deixas… Olha as estrelas e contaas; conta a
areia do mar! Assim será tua fecundidade. Nesta promessa está depositada a
nossa fé.
Eu Sou teu Senhor. Deus conduziu seu povo
pelo deserto durante quarenta anos para que compreendesse que Deus é o único
Senhor, a quem se ama com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (Dt 6,4 ). A Ordem necessita, na
reestruturação, de priores sábios, capazes de discernir os sinais dos tempos
para conduzi-la com horizontes de vida. Como Moisés, encontraremos priores que
expressem suas limitações: “não sei falar”, “não sei animar”, “sou incapaz do
fazer tudo”... Também nos sucederão muitas coisas na trajetória da
reestruturação; murmuraremos dos líderes e lamentaremos ter perdido um sem
número de pequenas seguranças, mas teremos ganhado tudo se tivermos confiança
na única certeza que vale a pena: Aquele-que-É é meu único Senhor.
Um coração novo. O religioso que quer se
renovar não pode se conformar com uma religiosidade externa; necessita buscar a
Deus de todo o coração. Os profetas desenvolveram a “teologia do coração” para
educar o povo na interioridade; ensinaram-lhe a pedir um coração novo e um
espírito novo, capaz de oração, criador de comunhão e comprometido com a
missão. “Regressa ao coração”, é o grande grito agostiniano para que os frades
vivam um processo de recoleção, pois no interior do homem habita a Verdade.
Nosso coração estará inquieto até que descanse nEle.
O anúncio do Reino. Somos discípulos do Senhor
e queremos ser profetas do Reino. Nosso itinerário será o mesmo do Mestre: da
Galileia a Jerusalém e da Jerusalém à Galileia. Galileia representa o melhor do
coração humano. Jesus anuncia o perdão aos pecadores, a libertação aos
oprimidos, a saúde aos doentes e um tempo de graça para todos; desperta nos
discípulos o ardor de anunciar o Reino de Deus ao mundo. É preciso subir a
Jerusalém para compreender nossa consagração e missão. O Mestre pergunta-nos
diretamente: “Quem sou eu para ti?” Cada qual temos uma resposta pessoal.
Jesus, por sua vez, nos chama à radicalidade, a entregar a vida, a perder para
ganhar, a tomar a cruz. Com a Ressurreição tudo é novo. É necessário voltar à
Galileia. Nossa missão é anunciar a todos que Jesus vive e é o Senhor.
Nascer de novo. Na
figura de Nicodemos encontramos o paradigma da revitalização que precisamos
(Cf. Jn 3,
1-19). É um homem insatisfeito que procura vida nova na escuridão. Nicodemos
converte-se em porta-voz de nossas objeções. Quantos arrazoados para não
tomarmos a sério a revitalização e a reestruturação! Quantos discursos para
evidenciar que não sabemos do que falamos! Jesus não perde tempo e nos reconduz
ao essencial: é preciso nascer de novo. Não são suficientes os grandes ideais,
nem as sãs tradições, é necessário uma mudança radical. É preciso acontecer
algo diferente, ter um novo começo. A vida segundo o Espírito é
como o vento, não sabes de onde vem nem para onde vai.
Ver e tocar as feridas de Cristo.
Chegou o momento de passar das palavras ao compromisso. Jesus Ressuscitado pede
ao incrédulo Tomé que veja e toque suas feridas para que surja a profissão de
fé mais contundente de um discípulo: “Meu Senhor e meu Deus! (Jo 20, 24-29). As marcas da cruz são as
feridas do mundo. Quem fecha seus olhos ao sofrimento das pessoas é um
incrédulo, sua fé é vã. Como caminho de revitalização, as feridas da humanidade
são uma interpelação à Ordem; esta tem que sair às periferias para curar e se
curar.
4. REESTRUTURAR-NOS PARA DAR VIDA
Queremos uma reestruturação com horizonte de vida e não de
manutenção. O religioso que pode dar vida é um homem de fé que percebe o
sentido profundo dos acontecimentos; um religioso livre e de coração aberto,
que escuta com humildade e fala com clareza; um religioso sábio que discerne
com critérios evangélicos o que há que fazer e vê para além da autoreferência,
do relativismo, da vida cômoda e do desalento. Seguindo o magistério do Papa
Francisco, (o religioso) tem que ser profeta comprometido na solução dos
desafios e problemas de nosso tempo, recuperar o ardor missionário e ir às
periferias que precisam da luz do evangelho. Não queremos uma reestruturação
que faça arqueologia ou cultive inúteis nostalgias, mas que acenda a chama
inspiradora do Espírito para dispor os odres capazes de acolher o vinho novo.
Para conseguir uma autêntica vivência agostiniana recoleta,
unimos forças para impulsionar a vida comunitária, realizar a missão que a
Igreja nos encomenda e estar onde sejamos mais necessários.
Nos próximos anos teremos o desafio de elaborar um projeto de
vida e missão capaz de dar vida a toda a Ordem. Eis as palavras chaves: Não nos
deixemos roubar a alegria da vocação! Apostemos por uma apaixonada pastoral
juvenil e vocacional, na qual damos um testemunho alegre de nossa consagração e
comunidades vocacionais.
Não nos deixemos roubar o presente! Jovens formandos, vocês
são o presente da Ordem; cabe a vocês contagiar-nos com a paixão do primeiro
amor, com o entusiasmo por Jesus Cristo. Nós, os menos jovens, nos empenharemos
em que o itinerário formativo agostiniano recoleto seja a pedagogia que oriente
todas as etapas da vida dos religiosos.
Acolhamos com carinho a nossos irmãos idosos e enfermos! Eles
são testemunho de fidelidade e entrega até o final. Sua missão, misteriosamente
fecunda, é indispensável na criação de comunhão e na verdadeira esperança na
misericórdia do Senhor.
Não nos deixemos roubar o dom da interioridade! Somente a
partir da oração intima e fiel poderemos ser homens de esperança. Quando o
patrão está no centro tudo é possível! Não conta nem o fracasso nem qualquer
outro mal, porque Ele é quem nos conduz. Cuidar da oração comum é o nosso
compromisso. 5
Não nos deixemos roubar o ideal do amor fraterno! O processo
de reestruturação precisa mais que nunca do unguento e do orvalho, da doçura e
da delícia da convivência dos irmãos unidos. Temos sido interpelados a ser
“homens de esperança” e “criadores de comunhão” nos detalhes da vida diária com
uma relação mais cordial e uma comunicação mais profunda e assertiva.
Não nos deixemos roubar a alegria evangelizadora! Reavivemos
o ardor pela missão, como o fizeram os primeiros recoletos. Fortaleçamos nossa
presença nos territórios de missão; abramos novas presenças significativas
capazes de vida em todos nós. Reavivemos nosso zelo pastoral nas paróquias e
centros educativos, e em missão partilhada com os seculares.
Não nos deixemos roubar o profetismo! Apostamos por uma Ordem
mais solidária e comprometida com os mais pobres da sociedade. Ponhamos ao
serviço dos necessitados nossa riqueza institucional, com presenças e ações
concretas.
5. TODA NOSSA ESPERANÇA ESTÁ EM TUA
GRANDE MISERICÓRDIA…
Senhor, que imprevisível és; trazíamos a ti o programa pronto
e enchestes nossos alforjes de surpresas. Vínhamos defender e cuidar daquilo
que nos destes, daqueles que professaram conosco e com quem sempre vivemos, e
nos destes um coração tão grande como o teu, no qual cabem todos. Pretendíamos
não complicar muito as coisas, e nos empurraste para o mundo para ser
“mensageiros de esperança” e “criadores de comunhão”. Já temos um projeto de
vida e missão. Dá-nos o arrojo para vivê-lo com compromisso e alegria.
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Janeiro de 2017
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br