Tem alguém esperando... É tempo de voltar!
A passagem do Evangelho de são Lucas capítulo
15, 11-32 faz-nos refletir sobre a atitude do Pai das Misericórdias que acolhe
o filho pecador e reintegra-o em seu seio. Vou me deter na atitude do filho
mais jovem que pede que ao pai que lhe reparta a herança. Pedir a herança ao
pai sem que o pai tenha morrido, é como se o filho estivesse rompendo com o pai
e prematuramente o matando! Sua sede de sair de casa reflete o desejo de
procurar novas experiências. Pode-nos parecer algo fora da realidade, porém,
quantos jovens conhecemos que buscam desenfreadamente o prazer e também saem do
convívio familiar?
Após um período de diversão, festas e
bebedeiras, eis que o dinheiro acaba. E agora? O que fazer? Vemos que o filho é
movido a voltar à casa paterna, não pela saudade que sentiu do pai, mas, por
causa da fome que assolou aquela região que o fez cair em si e querer voltar:
“Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de
fome!” (Lc 15, 17). Mesmo com fome, este filho sabia que seu pai era justo e
não o deixaria desamparado; mesmo rompendo com a casa paterna, sentia que o
Misericordioso pai lhe daria ao menos um prato de comida.
Aquele filho caiu na pretensão de pensar que
fora da casa do pai as coisas seriam mais fáceis, mais prazerosas. Mas, qual
foi a vida a qual se deparou? “querer comer a comida dos porcos e nem isso lhe
era permitido” (Lc, 15, 16). Comida dos porcos, algo mais asqueroso que alguém
pode comer! Para os judeus, o porco é um animal impuro e cuidar dele é o
trabalho mais humilhante; imagine então comer a comida deste animal! O pecado
nos joga na lama e suja nossa dignidade! Experimentando esta sensação de estar
no fundo do poço, este filho decide voltar. Seu ímpeto de voltar revela que
junto ao pai teria o necessário para continuar a vida. Suas palavras, além de
reconhecer que errou, mostram arrependimento: “Pai, pequei contra o céu e
contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus
empregados” (Lc 15, 18-19).
A caminho da casa, eis que o pai, aquele que
estava todos os dias à sua espera, se antecipa e sai correndo para abraçá-lo. A
atitude deste pai em acolher o filho mostra o seu imenso amor e sua
consideração por este jovem. Correu para acolhê-lo porque sabia que um dia
voltaria. O Evangelho é ainda mais incisivo em dizer que o pai “foi movido por
misericórdia” (Lc, 15, 20), ou seja, ele viu com o coração a dor do filho e
isso estremeceu suas entranhas. Imagine você uma pessoa suja, suada e com as
roupas surradas sendo abraçada e beijada. Beijamos somente a quem amamos! O
filho nem sequer tem tempo para dizer as palavras ensaiadas porque o
Misericordioso pai pede logo sandália, anel e roupas limpas (Lc 15, 22) a fim
de restaurar a dignidade de filho e herdeiro que aquele rapaz havia perdido.
Irmãos, o pecado tira tudo de nós: nossa
dignidade, nossa alegria, nosso desejo de viver, mas, nunca ninguém, nenhuma situação
ou pessoa poderá nos tirar a marca de filhos amados, pensados e prediletos de
Deus! Basta que façamos este caminho de conversão, mesmo que movidos pela fome!
A festa expressa a alegria de um pai aliviado por recobrar seu amado com vida.
Esta pode ser a sua história. Quantos saem da casa do Pai e se aventuram por
caminhos tortuosos? O mais importante aqui não é o erro, até porque somos todos
susceptíveis a isso. O mais belo e o mais apaixonante é saber que há um PAI NOS
ESPERANDO mesmo se formos insensatos, pecadores e de cabeça dura. Não importa o
quanto erramos, basta abandonar os hábitos do homem velho e se revestir do
homem novo. Tem alguém que me ama e está à minha espera. É tempo de voltar.
Frei
Rhuam Ferreira Rodrigues de Almeida (OAR)
Teologado
Santa Mônica (São Paulo-SP)
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Março de 2017
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
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