Se O amas, segue-O[1]’
Cristo apresenta-se no
Evangelho de João como “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). Em sua raiz,
a palavra vocação (do latim vocare)
significa chamado. Todos os cristãos batizados são convidados à santidade. Este
é o convite universal: “sede santos porque Eu sou Santo” (I Pe 1, 16). Aquele
que chama espera uma resposta. Tal resposta brota de um coração agradecido,
disposto ao seguimento. Isto requer da parte do convidado o colocar-se a CAMINHO. Recordemo-nos da parábola do
semeador (Mt 13, 3-9). Este homem decide-se a semear, mas, ao longo do caminho,
eis que algumas sementes caem de sua alforja. O evangelista nos narra que as
sementes caíram em diferentes terrenos (à beira do caminho, em meio às pedras,
em espinheiros e em terra boa) e ficaram sujeitos ao clima e às adversidades.
Todas elas possuíam em seu o potencial de brotar, crescer e darem fruto.
Da mesma forma, todo vocacionado possui em
seu interior a potencialidade de serem produtores de bons frutos. Como o
semeador, Jesus passa pela vida dos homens lançando a semente da Boa Nova.
Assim como no interior da semente está o seu potencial, o convite do Mestre
está repleto de promessas que precisam de um bom terreno para que produza.
Embora todas as sementes caíssem da mesma alforja, nem todas tiveram a mesma
sorte. Algumas delas foram devoradas pelos pássaros (Mt 13, 4), outras
queimadas pelo sol (Mt 13, 6) outras ainda foram sufocadas (Mt 13, 7). Na
caminhada vocacional muitos são chamados, porém, ao longo da jornada, não
conseguem levar a cabo a missão encomendada. Afinal, as coisas não dependem
unicamente de nós. É a Graça de Deus que nos mantém fieis: “Quem vos chamou é
fiel e é Ele quem agirá” (I Tes 5, 24). As tentações que se apresentam pelo
caminho incitam-nos a procurar por trilhas. Se apresentarem a você outro
Caminho, desconfie. O Verdadeiro Caminho já se apresentou a nós (Jo, 4, 10). Se
desprezarmos o Caminho, desprezamos a Cristo.
Porém, é preciso ser realista. Em toda
vocação, há dificuldades e incertezas. Para dizer sim a um projeto é preciso
confiança de modo que falemos a Deus e a nós sempre a VERDADE. As dificuldades apresentam-se a todos os vocacionados.
Ninguém está isento. No matrimônio, o casal deve ser verdadeiro mutuamente, da
mesma forma, os consagrados e consagradas, sacerdotes e solteiros são chamados,
cada qual em seu chamado específico, a serem sempre sinceros. Antes do
matrimônio (e também antes da total consagração), há um período de conhecimento
mútuo. O namoro não pode durar somente alguns dias. É preciso que o casal viva
um santo período de namoro e noivado sem atropelos. Da mesma forma, na vida
religiosa e sacerdotal, o período de formação é um kairós que deve ser vivido de forma intensa.
A verdade deve ser desejada e buscada com
sinceridade de coração. Confesso que buscar a verdade em meio às tribulações
não é tarefa fácil. Assim aconteceu com os discípulos que foram pegos de
surpresa com uma tempestade em alto mar (Lc 8, 22-25). Em meio à tormenta, não
sabiam eles o que fazer. Procuraram solução em suas próprias forças,
esqueceram-se que o Mestre estava com eles na barca. É verdade que Cristo
estava dormindo (Lc 8, 23), mas, estava com eles. Quando o Mestre está na
barca, não é preciso desesperar. Basta que O acordemos (e isso se faz pela
oração) para que Ele, com uma só palavra, dê ordem para que cesse o vento e o
tumulto do mar bravio (Lc 8, 24). Se apresentarem a você outra Verdade,
desconfie. A Verdade já se apresentou a nós (Jo, 4, 10). Outras “verdades” são
como os ladrões: “vem só para roubar, matar e destruir” (Jo 10, 10). Se
desprezarmos a Verdade, desprezamos a Cristo.
Por fim, a vocação envolve toda a pessoa. É
impossível que o vocacionado viva uma vida dupla como num teatro. A nossa VIDA deve ser reflexo da Vida
Verdadeira. Assim como “ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6, 24), também
não é possível uma vida dupla. Toda vocação é chamada a ser oferta ao outro.
Ninguém abraça o matrimônio simplesmente para ser feliz individualmente. Da
mesma forma, ser frade, freira ou sacerdote não é um privilégio. Não somos para
nós, somos para os demais. A vida se não for doada é estéril. No alto da Cruz o
Senhor, depois de oferecer-nos tudo, entrega-se totalmente como oferta
agradável: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito” (Lc 26, 46). Eis,
portanto, a Vida Verdadeira: “a vida junto a Deus, a vida de Deus, o próprio
Deus”[2]. Se apresentarem a você
outra Vida, desconfie. A Verdadeira Vida já se apresentou a nós (Jo, 4, 10).
Uma vida que não esteja unida à Vida, é uma mentira. Se desprezarmos a Vida,
desprezamos a Cristo.
Santo Agostinho afirma que “se O amas,
segue-O”. A resposta vocacional é, portanto, fruto de um amor que recebemos de
Deus, um amor que nos amou primeiro. Cristo, ao passar pela vida dos apóstolos,
convida-os desde suas realidades e após os olhar com amor, lança o convite:
“vem e segue-me” (Mt 19, 21). Estes homens seguiram a Cristo somente porque Ele
os seduziu. O convite vocacional lança-nos para fora, faz-nos sair de nosso
individualismo para que nos lancemos ao árduo trabalho de anunciar a Boa Nova.
Este convite continua acontecendo. Cada vez que o ser humano aceita o convite
de Jesus, atualiza-se a passagem bíblica vocacional e a esperança é renovada.
Decidamos ao seguimento a Jesus Cristo. “Quem me segue não andará nas trevas,
mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12). Vale a pena dizer sim ao seu projeto.
Frei Rhuam Ferreira
Rodrigues de Almeida (OAR)
Teologado Santa
Mônica (São Paulo-SP)
[1] SANTO AGOSTINHO.
Do Tratado sobre o Evangelho de são João 34, 9. Madrid: BAC, 1983.
[2] Responsório breve das primeiras
vésperas da solenidade de Santo Agostinho. Liturgia Agostiniana das Horas. São
Paulo, 1979, p. 160.
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Agosto de 2017
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