Bispos reunidos em sua 56ª Assembleia Geral enviam mensagem ao povo de Deus
A presidência da CNBB falou aos jornalistas
reunidos na Coletiva de Imprensa da 56ª Assembleia Geral da entidade, na tarde
do dia 19 de abril. Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente
da Comissão do Tema Central da Assembleia falou sobre os próximos passos do
documento sobre a formação de presbíteros aprovado na assembleia. O documento
segundo para a aprovação final do Vaticano e, após esse passo, será publicado
como um documento da CNBB que vai orientar a formação dos novos padres no
Brasil.
Dom Murilo Krieger, vice-presidente, leu as
mensagens da conferência ao povo de Deus. O documento registra a comunhão do
episcopado brasileiro com o papa Francisco e destaca a necessidade de promover
o diálogo respeitoso para estimular a comunhão na fé em tempo de politização e
polarizações nas redes sociais. A mensagem retoma a natureza e a missão da
entidade na sociedade brasileira. Confira, na sequência, a íntegra do documento
que será enviado à todas as 277 circunscrições eclesiásticas do Brasil,
incluindo arquidioceses, dioceses, prelazias, entre outras.
MENSAGEM DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS
BISPOS DO BRASIL AO POVO DE DEUS
O que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que
também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o
seu Filho Jesus Cristo (1Jo 1,3)
Em comunhão com o Papa Francisco, nós, Bispos
membros da CNBB, reunidos na 56ª Assembleia Geral, em Aparecida – SP,
agradecemos a Deus pelos 65 anos da CNBB, dom de Deus para a Igreja e para a
sociedade brasileira. Convidamos os membros de nossas comunidades e todas as
pessoas de boa vontade a se associarem à reflexão que fazemos sobre nossa
missão e assumirem conosco o compromisso de percorrer este caminho de comunhão
e serviço.
Vivemos um tempo de politização e polarizações que
geram polêmicas pelas redes sociais e atingem a CNBB. Queremos promover o
diálogo respeitoso, que estimule e faça crescer a nossa comunhão na fé, pois,
só permanecendo unidos em Cristo podemos experimentar a alegria de ser
discípulos missionários.
A Igreja fundada por Cristo é mistério de comunhão:
“povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (São Cipriano).
Como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (cf. Ef 5,25), assim devemos
amá-la e por ela nos doar. Por isso, não é possível compreender a Igreja
simplesmente a partir de categorias sociológicas, políticas e ideológicas, pois
ela é, na história, o povo de Deus, o corpo de Cristo, e o templo do Espírito
Santo.
Nós, Bispos da Igreja Católica, sucessores dos
Apóstolos, estamos unidos entre nós por uma fraternidade sacramental e em
comunhão com o sucessor de Pedro; isso nos constitui um colégio a serviço da
Igreja (cf. Christus Dominus, 3). O nosso afeto colegial se concretiza também
nas Conferências Episcopais, expressão da catolicidade e unidade da Igreja. O
Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium, 23, atribui o surgimento das
Conferências à Divina Providência e, no decreto Christus Dominus, 37, determina
que sejam estabelecidas em todos os países em que está presente a Igreja.
Em sua missão evangelizadora, a CNBB vem servindo à
sociedade brasileira, pautando sua atuação pelo Evangelho e pelo Magistério,
particularmente pela Doutrina Social da Igreja. “A fé age pela caridade” (Gl
5,6); por isso, a Igreja, a partir de Jesus Cristo, que revela o mistério do
homem, promove o humanismo integral e solidário em defesa da vida, desde a
concepção até o fim natural. Igualmente, a opção preferencial pelos pobres é
uma marca distintiva da história desta Conferência. O Papa Bento XVI afirmou
que “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica
naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com a sua pobreza”.
É a partir de Jesus Cristo que a Igreja se dedica aos pobres e marginalizados,
pois neles ela toca a própria carne sofredora de Cristo, como exorta o Papa
Francisco.
A CNBB não se identifica com nenhuma ideologia ou
partido político. As ideologias levam a dois erros nocivos: por um lado,
transformar o cristianismo numa espécie de ONG, sem levar em conta a graça e a
união interior com Cristo; por outro, viver entregue ao intimismo, suspeitando
do compromisso social dos outros e considerando-o superficial e mundano (cf.
Gaudete et Exsultate, n. 100-101).
Ao assumir posicionamentos pastorais em questões
sociais, econômicas e políticas, a CNBB o faz por exigência do Evangelho. A
Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu
juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais
da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes,
76). Isso nos compromete profeticamente. Não podemos nos calar quando a vida é
ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada.
Se, por este motivo, formos perseguidos, nos configuraremos a Jesus Cristo,
vivendo a bem-aventurança da perseguição (Mt 5,11).
A Conferência Episcopal, como instituição
colegiada, não pode ser responsabilizada por palavras ou ações isoladas que não
estejam em sintonia com a fé da Igreja, sua liturgia e doutrina social, mesmo
quando realizadas por eclesiásticos.
Neste Ano Nacional do Laicato, conclamamos todos os
fiéis a viverem a integralidade da fé, na comunhão eclesial, construindo uma
sociedade impregnada dos valores do Reino de Deus. Para isso, a liberdade de
expressão e o diálogo responsável são indispensáveis. Devem, porém, ser
pautados pela verdade, fortaleza, prudência, reverência e amor “para com
aqueles que, em razão do seu cargo, representam a pessoa de Cristo” (LG 37). “Para discernir a verdade, é preciso examinar
aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a
isolar, dividir e contrapor” (Papa Francisco, Mensagem para o 52º dia Mundial
das Comunicações de 2018).
Deste Santuário de Nossa Senhora Aparecida,
invocamos, por sua materna intercessão, abundantes bênçãos divinas sobre todos.
Aparecida-SP, 19 de abril de 2018.
Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília – DF
Presidente da CNBB
Arcebispo de Brasília – DF
Presidente da CNBB
Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Arcebispo São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
MENSAGEM
DA 56ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB AO POVO BRASILEIRO
“Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer” (Hb
10,23)
Nós,
bispos católicos do Brasil, conscientes de que a Igreja “não pode nem deve
ficar à margem na luta pela justiça” (Papa Bento XVI – Deus Caritas
Est, 28), olhamos para a realidade brasileira com o coração de pastores,
preocupados com a defesa integral da vida e da dignidade da pessoa humana,
especialmente dos pobres e excluídos. Do Evangelho nos vem a consciência de que
“todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a
construção de um mundo melhor” (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183),
sinal do Reino de Deus.
Neste
ano eleitoral, o Brasil vive um momento complexo, alimentado por uma aguda
crise que abala fortemente suas estruturas democráticas e compromete a
construção do bem comum, razão da verdadeira política. A atual situação do País
exige discernimento e compromisso de todos os cidadãos e das instituições e
organizações responsáveis pela justiça e pela construção do bem comum.
Ao
abdicarem da ética e da busca do bem comum, muitos agentes públicos e privados
tornaram-se protagonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha
destaque, ao revelar raízes cada vez mais alastradas e profundas. Nem mesmo os
avanços em seu combate conseguem convencer a todos de que a corrupção será
definitivamente erradicada. Cresce, por isso, na população, um perigoso
descrédito com a política. A esse respeito, adverte-nos o Papa Francisco que,
“muitas vezes, a própria política é responsável pelo seu descrédito, devido à
corrupção e à falta de boas políticas públicas” (Laudato Sì, 197). De
fato, a carência de políticas públicas consistentes, no país, está na raiz de
graves questões sociais, como o aumento do desemprego e da violência que, no
campo e na cidade, vitima milhares de pessoas, sobretudo, mulheres, pobres,
jovens, negros e indígenas.
Além
disso, a perda de direitos e de conquistas sociais, resultado de uma economia
que submete a política aos interesses do mercado, tem aumentado o número dos
pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade. Inúmeras situações
exigem soluções urgentes, como a dos presidiários, que clama aos céus e é
causa, em grande parte, das rebeliões que ceifam muitas vidas. Os discursos e
atos de intolerância, de ódio e de violência, tanto nas redes sociais como em
manifestações públicas, revelam uma polarização e uma radicalização que
produzem posturas antidemocráticas, fechadas a toda possibilidade de diálogo e
conciliação.
Nesse
contexto, as eleições de 2018 têm sentido particularmente importante e
promissor. Elas devem garantir o fortalecimento da democracia e o exercício da
cidadania da população brasileira. Constituem-se, na atual conjuntura, num
passo importante para que o Brasil reafirme a normalidade democrática, supere a
crise institucional vigente, garanta a independência e a autonomia dos três
poderes constituídos – Executivo, Legislativo e Judiciário – e evite o risco de
judicialização da política e de politização da Justiça. É imperativo
assegurar que as eleições sejam realizadas dentro dos princípios democráticos e
éticos para que se restabeleçam a confiança e a esperança tão abaladas do povo
brasileiro. O bem maior do País, para além de ideologias e interesses
particulares, deve conduzir a consciência e o coração tanto de candidatos,
quanto de eleitores.
Nas
eleições, não se deve abrir mão de princípios éticos e de dispositivos legais,
como o valor e a importância do voto, embora este não esgote o exercício da
cidadania; o compromisso de acompanhar os eleitos e participar efetivamente da
construção de um país justo, ético e igualitário; a lisura do processo
eleitoral, fazendo valer as leis que o regem, particularmente, a Lei 9840/1999
de combate à corrupção eleitoral mediante a compra de votos e o uso da máquina
administrativa, e a Lei 135/2010, conhecida como “Lei da Ficha Limpa”, que
torna inelegível quem tenha sido condenado em decisão proferida por órgão
judicial colegiado.
Neste
Ano Nacional do Laicato, com o Papa Francisco, afirmamos que “há necessidade de
dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, (…)
solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem
comum aos seus interesses privados; que não se deixem intimidar pelos grandes
poderes financeiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes face a
problemas complexos; que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo
democrático; que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a
reconciliação” (Mensagem aos participantes no encontro de políticos católicos –
Bogotá, Dezembro-2017).
É
fundamental, portanto, conhecer e avaliar as propostas e a vida dos candidatos,
procurando identificar com clareza os interesses subjacentes a cada
candidatura. A campanha eleitoral torna-se, assim, oportunidade para os
candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que queremos construir.
Não
merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que
coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os
que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua
dignidade. São igualmente reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro
privilegiado e outras vantagens.
Reafirmamos
que “dos agentes políticos, em cargos executivos, se exige a conduta ética, nas
ações públicas, nos contratos assinados, nas relações com os demais agentes
políticos e com os poderes econômicos” (CNBB – Doc. 91, n. 40 – 2010). Dos que
forem eleitos para o Parlamento espera-se uma ação de fiscalização e legislação
que não se limite à simples presença na bancada de sustentação ou de oposição ao
Executivo (cf. CNBB – Doc. 91, n. 40– 2010). As eleições são ocasião para os
eleitores avaliarem os candidatos, sobretudo, os que já exercem mandatos,
aprovando os que honraram o exercício da política e reprovando os que se
deixaram corromper pelo poder político e econômico.
Exortamos
a população brasileira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de
crescimento, abandonando os caminhos da intolerância, do desânimo e do
desencanto. Incentivamos as comunidades eclesiais a assumirem, à luz do
Evangelho, a dimensão política da fé, a serviço do Reino de Deus. Sem tirar os
pés do duro chão da realidade, somos movidos pela esperança, que nos compromete
com a superação de tudo o que aflige o povo.
Alertamos
para o cuidado com fake news, já presentes nesse período pré-eleitoral,
com tendência a se proliferarem, em ocasião das eleições, causando graves
prejuízos à democracia.
O
Senhor “nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a
sociedade, o povo, a vida dos pobres” (Papa Francisco – Evangelii
Gaudium, 205). Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, seja nossa
fiel intercessora.
Aparecida
– SP, 17 de abril de 2018.
Cardeal Sérgio da Rocha
Arcebispo de Brasília-DF
Presidente da CNBB
Dom
Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo
de São Salvador- BA
Vice-Presidente
da CNBB
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Maio de 2018
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br