2) Maria,
modelo da família
(Continuando
a Reflexão do mês de maio)
E quais as notas característica de um coração de mãe? São duas: o
amor e o sacrifício. Ora, não são estas justamente as duas notas mais
melodiosas do Imaculado Coração de Maria? Que Maria Santíssima, em segundo
lugar, deve ser o modelo da família cristã e, de uma maneira
muito particular, daquela que é o centro e o coração da família: a mãe.
Só será mãe cristã, autêntica e verdadeira, aquela que se amoldar ao exemplo da
augusta Mãe de Cristo.
Poder de amor e que espírito de sacrifício há naquele Coração! Ela é e
será sempre a Mestra das mestras na arte de sobrenaturalizar o amor e o
sacrifício.
Mas a Virgem Santíssima, na família cristã, além de ser modelo
insuperável de mãe, é também o modelo mais completo para os filhos. Com
efeito, ninguém, depois de seu próprio e divino Filho, esteve mais
perfeitamente do que Ela sujeito a seus pais, cercando-os de respeito,
de afeto filial e de infinitas delicadezas.
Nela, por conseguinte, devem inspirar-se todos os filhos de família, se queremos
que cada família cristã se converta em outra Família de Nazaré.
3) Maria, ajuda da família
Maria Santíssima, em terceiro lugar, é ajuda da família cristã.
Entre os poucos, mas significativos episódios referidos pelo Evangelho a
respeito de Maria Santíssima, há dois que nos revelam o quão propensa é a
Virgem a socorrer as famílias cristãs. Estes dois episódios referem-se às
duas famílias que tiveram grande relação com Cristo: a de Zacarias e a
desconhecida família de Caná.
Deviam ser duas famílias muito devotas de Maria Santíssima e muito
conhecidas e amadas por Ela. Foi em favor destas duas famílias que Ela
alcançou de Jesus dois milagres, os dois primeiros milagres que Ele realizou:
o primeiro, na ordem sobrenatural: a santificação de S. João Batista; o
segundo, na ordem natural: a conversão da água em vinho.
Maria Santíssima ficara sabendo pelo Anjo, no dia da
Anunciação, que sua prima Isabel, mulher de Zacarias — que ficara mudo pela
incredulidade às palavras do Anjo —, depois de tantos anos de humilhante
esterilidade, era agora mãe, e mãe do Precursor de seu divino Filho. Desejosa
de participar da inefável alegria de sua santa prima, abandona a celestial
solidão de Nazaré, dirige-se às montanhas da Judéia e entra na casa de Zacarias.
Levado por Maria, entra
ali também Jesus. Assim
outrora; assim agora; assim sempre.
À voz da
saudação que Maria dirige à dona da casa, Isabel sente-se cheia do Espírito
Santo, e o pequeno Batista, saltando no seio de sua mãe, expressa com aquela
manifestação de alegria a santificação produzida em sua alma. Com este excelso
dom sobrenatural (a voz
de Maria foi como o veículo daquela primeiro milagre), Ela
recompensou o afeto que lhe tinha aquela família.
O mesmo deve ser
dito da visita de Maria a uma outra família, que estava prestes a
constituir-se. Aqueles dois jovens esposos tiveram a nobre ideia de convidar
Maria para participar da alegria que lhes inundava o coração, ao verem
finalmente realizado o seu sonho de amor. Maria aceita, com complacência
maternal. Por respeito a
Maria — como parece deduzir-se do texto —, convidam também a Jesus
com seus primeiros discípulos.
Sempre acontece
assim: onde entra Maria, antes ou depois entrará também Jesus, e com Jesus todo o bem,
tanto espiritual como material. Foi nesta ocasião feliz que o contrato
matrimonial elevou-se à dignidade de sacramento [2], ou seja, foi elevado para
significar a inefável união de Cristo com a Igreja e a conferir a graça
necessária ao cumprimento de todos os deveres conjugais. Este foi o benefício espiritual. A ele veio
somar-se o material.
Aconteceu, pois,
que o vinho começou a faltar, e Maria Santíssima, sem que ninguém lho pedisse,
dirigiu-se a seu divino Filho, e Ele realizou o milagre — o primeiro, o que
abriu a série de seus milagres — da conversão da água em um generoso vinho. Esta mesma ajuda, prestada a estas
duas famílias, a Virgem há de prestá-las sem dúvida alguma,
ainda que não lha peçam explicitamente, a
todas as famílias que lhe oferecerem seus obséquios.
4) Maria, ânimo da família
A Virgem Santíssima é, em quarto lugar, o ânimo da família
cristã. A quantas famílias tem confortado a Consoladora dos aflitos! Em
primeiro lugar, confortou a primeira família humana, imediatamente depois de
sua clamorosa derrota pela serpente infernal.
Com efeito, das palavras dirigidas por Deus à serpente, a “Mulher”
prometida aparece como um raio de esperança entre as trevas da culpa, como
promessa de vitória sobre a serpente vencedora. A luminosa visão desta
prometida eterna inimiga e vencedora de Satanás foi o que consolou
nossos primeiros pais e a seus descendentes nas amarguras da peregrinação
terrena. A Ela, pois, dirigiu a humana família, desde o primeiro momento, seu
olhar como a uma tábua de salvação, e como a seu supremo ânimo.
Confortou, com sua vinda a este mundo, a sua própria família, ou seja, a
seus santos pais, aflitos — segundo uma antiga e venerável tradição — por uma
longa e humilhante esterilidade. A alegria trazida por Maria Santíssima à
sua família não era mais do que um símbolo da alegria que Ela havia de trazer a
toda a família humana em geral e a cada família que a faz penetrar em suas
paredes domésticas.
Estes são, em rápida síntese, os benefícios preciosos e incalculáveis
que a devoção terna e sólida à Virgem Santíssima traz para a família. Se é
verdade que a família é o “centro da humanidade”, já que a sociedade, tanto
civil como religiosa, não é mais do que a extensão da família, também é verdade
que a salvação da família acaba por coincidir com a salvação da sociedade.
E a salvação da família é precisamente Maria, Rainha do lar. Eis porque
se deve “à Santíssima Virgem tudo o que de bom tem a família. Nunca será demais
repeti-lo” [3].
Referências
o
Tradução e adaptação de
Gabriel M.ª Roschini, La Madre de Dios según la Fe y la Teología. Trad.
esp. de Eduardo Espert. 2.ª ed., Madrid: Apostolado de la Prensa, 1958, vol. 2,
pp. 505-509.
Notas
1. Cf. L’Osservatore Romano,
19 mai. 1946.
2. É contudo ponto discutível em
teologia sacramental o momento exato em que Cristo teria elevado o matrimônio à
dignidade de sacramento da Nova Aliança (Nota da Equipe CNP).
3. S. de Lestapis, “Marie et la
Famille”, em: Marie, vol. 1, Paris, Beauchesne, p. 767.
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Junho de 2019
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
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