Seminaristas realizam missão em
diferentes realidades da Capital
43
seminaristas atuaram em seis paróquias e junto às pastorais do Menor,
Carcerária e do Povo da Rua, em ações de evangelização.
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO -
Arquivo pessoal
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Aos poucos,
eles iam se aproximando. “Você quer fazer barba e cabelo?”, perguntava um dos
missionários da Missão Belém que recepcionava os irmãos de rua, como são
chamadas as pessoas em situação de rua que aceitam conhecer as casas da Missão
Belém e fazer um caminho para saírem das ruas.
Com máquinas
de cortar cabelo, barbeadores e tesouras nas mãos, seminaristas da Arquidiocese
de São Paulo estavam a postos para realizar uma de suas últimas ações durante a
Missão de Férias 2018, na qual 43 seminaristas da Arquidiocese permaneceram em
missão em diferentes realidades urbanas e pastorais da cidade de São Paulo.
Também os diáconos seminaristas estão em missão em dioceses do Norte e do
Nordeste do País, onde permanecerão por dois meses.
A missão,
realizada anualmente, aconteceu entre os dias 1º e 9, em seis paróquias e junto
às pastorais do Menor, Carcerária e do Povo da Rua. Eles foram enviados após a
celebração eucarística da manhã do domingo, dia 1º, na Catedral da Sé,
presidida por Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da
Arquidiocese.
Yago Barbosa
Ferreira, Felipe Batista da Silva e João Funari Fouto participaram da missão
com a Pastoral do Povo da Rua, mais especificamente com a Missão Belém. Desde o
primeiro dia, eles e mais dois seminaristas passaram pela experiência não
somente de aproximar-se e conhecer a realidade das ruas, mas de vivê-la na
própria pele.
Junto a 25
missionários da Missão Belém, eles dormiram todos os dias na rua, pediram
alimentos e água para as refeições e, sobretudo, conversaram com muitas pessoas
convidando-as a deixarem as ruas.
“Noventa e
cinco irmãos aceitaram nosso convite e passaram pelas casas da Missão Belém”,
disse o Padre Gilson Frank dos Reis, da Missão Belém. Ele afirmou ainda que vê
a iniciativa de maneira muito positiva e percebe o quanto os seminaristas
começam a ver a cidade de maneira diferente e as pessoas que estão nas ruas
também.
Na
segunda-feira, 9, no Seminário Bom Pastor, no Ipiranga, os seminaristas e
lideranças pastorais, além dos padres que acompanharam os seminaristas, bispos
auxiliares e o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano,
reuniram-se para um momento celebrativo e partilha da missão nas diferentes
realidades de fronteira – como foram chamadas as pastorais do Povo da Rua,
Carcerária e do Menor – e nas paróquias.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Antonio
Carlos Ramalho, Vinícius Pinheiro e outros dois seminaristas visitaram muitos
projetos e unidades da Fundação Casa junto à Pastoral do Menor. Acompanhados
por Sueli Camargo e Ivan Bezerra dos Santos, membros da equipe de coordenação
dessa pastoral, eles puderam acompanhar o trabalho da Pastoral em suas múltiplas
atividades.
Para Carlos
Ramalho, em sua terceira missão, foi emocionante e, ao mesmo tempo, triste ver
o quanto as crianças, algumas inclusive recém-nascidas, carregam já uma bagagem
complexa, com pais que, em muitos casos, estão envolvidos com drogas e em
situações que colocam suas vidas e a dos filhos em risco. A mesma opinião foi
compartilhada por Vinícius, que salientou também a dificuldade que os agentes
da Pastoral têm para acessar as unidades da Fundação Casa.
“Não podíamos
deixar de citar o idealizador de tudo isso: Dom Luciano Mendes de Almeida, que
criou a Pastoral do Menor para defesa da vida da criança e do adolescente
empobrecido e em situação de risco, desrespeitados em seus direitos
fundamentais. Que juntos, possamos dizer como ele: ‘Se você acender uma luz na
vida de uma criança, essa criança será a luz da sua vida!’”, afirmaram os
seminaristas num texto escrito e assinado por todos sobre a Missão.
NOS CÁRCERES
Divididos em
dois grupos, com quatro missionários em cada um, os seminaristas visitaram
diferentes unidades prisionais em São Paulo, sempre acompanhados por membros da
Pastoral Carcerária.
Um dos
aspectos salientados pelos seminaristas foi a aproximação com os agentes e
diretores das unidades, às vezes facilitando o acesso às pessoas no cárcere e,
em outras, dificultando. Eles explicaram também que a falta de acesso direto às
pessoas em situação de cárcere é um complicador, pois em alguns casos não é
possível nem mesmo entregar a eles objetos, como Terços e livros de oração.
Eles permaneceram nas chamadas gaiolas ou viúvas, que foram colocadas como
restrições para as visitas religiosas com a justificativa de controlar
possíveis rebeliões.
A música foi
um elemento citado por todos como um instrumento eficaz na aproximação das
pessoas em situação de cárcere. “Com a música, eles sorriem, sentem-se mais à
vontade para contar suas histórias, pedir ao padre que os atenda em confissão
ou simplesmente viverem um momento de alegria”, disse Alisson Antunes Carvalho,
seminarista.
“O olho no
olho com esses irmãos que são excluídos me ajudou muito a refletir sobre a
minha vocação para o sacerdócio e o que fazer para que eles se sintam
incluídos”, disse Rodolfo Rodrigues.
Cleyton
Pontes, estudante de Teologia, contou que, além das unidades femininas, que
recebem sobretudo mulheres estrangeiras, eles visitaram um centro de detenção
para agentes policiais e pessoas com formação superior, e uma comunidade no
bairro do Carandiru que pegou fogo. “Conseguimos fazer uma campanha e recolher
doações para as famílias dessa comunidade junto com o pessoal da Paróquia que
nos acolheu”, disse Cleyton.
PELAS RUAS
Quando Felipe
Batista saiu para mais um dia de missão na Cracolândia, ele não imaginou que,
além de correr das bombas de gás e jatos de água lançados na região, ele seria
abordado pelos policiais. “Eles pediram que eu tirasse a camiseta e revistaram
meus bolsos. Tentei justificar que eu estava ali como missionário, mas eles
disseram que alguém poderia ter colocado algo nos meus bolsos e até riram de
mim. Foi constrangedor”, continuou.
Outro aspecto
recordado pelos jovens foi a recepção, ou a falta dela, quando eles pediam
alimentos em estabelecimentos comerciais ou restaurantes. “A maioria das
pessoas nos olhava com nojo e indiferença”, comentou Yago Barbosa, que pela
primeira vez na vida passou uma noite na rua e disse que a experiência, com
certeza, o fez ver as pessoas em situação de rua de maneira totalmente
diferente. “Marcou-me também como os próprios moradores de rua vinham partilhar
alimentos conosco e nos protegiam quando percebiam algo diferente”,
disse.
Numa das
noites em que o grupo de missionários reuniu-se para jantar e dormir embaixo da
ponte do Vale do Anhangabaú, eles viram um senhor com cerca de 45 anos se
jogar. “Foi uma cena chocante. Naquela noite, eu não consegui dormir”, contou
Felipe, que acompanhou os policiais como testemunha e soube que, mesmo tendo
caído de uma altura de cerca de 15 metros, o senhor não teve nenhum membro
fraturado.
No sábado, 7,
houve um dia festivo no Edifício Nazaré, que fica na Praça da Sé e foi
construído como um sinal concreto do Jubileu Extraordinário da Misericórdia
(2015-2016), convocado pelo Papa Francisco. A Casa, que será um local de
acolhida provisória para pessoas em situação de rua, será inaugurada no dia 29
deste mês, às 15h.
NAS PARÓQUIAS
Em cada uma das seis regiões episcopais da Arquidiocese de São Paulo, um grupo de seminaristas realizou a missão, com visitas às famílias, encontros com jovens e lideranças pastorais, procissões e acompanhamento dos desafios específicos de cada comunidade.
Na Paróquia
Santo Agnelo Abade, localizada na Vila Liviero, próximo a São Bernardo do
Campo, na Região Episcopal Ipiranga, esteve em missão um grupo de cinco
seminaristas. A missão concentrou-se numa região chamada Cruzeirinho, onde a
comunidade católica foi desativada.
Já na
Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Região Episcopal Brasilândia, houve a
intensificação dos momentos de oração com a comunidade. “Marcou-me muito a
visita a um sapateiro que disse: ‘Eu sou católico, mas tenho ido pouco à
Igreja’. Conversamos com ele e o convidamos para a missa de encerramento na
Paróquia. Ele chorava muito, e dizia: ‘Olha que coisa bonita, a Igreja Católica
vindo ao nosso encontro’. Quando estávamos para sair, ele fez uma oração para
nós. Eu realmente me comovi com aquela atitude”, disse Leonardo Oliveira, que
está no propedêutico, que constitui o primeiro ano no caminho formativo dos
seminaristas.
Pertencente à
Região Episcopal Belém, a Paróquia Santíssima Trindade recebeu a visita de
quatro seminaristas. Eles visitaram cerca de 110 famílias e realizaram
encontros e palestras sobre o sínodo arquidiocesano, o Ano Nacional do Laicato,
o dízimo e até mesmo um cinema com os jovens.
Pedro Funari,
que está no primeiro ano de Filosofia, comentou o fato de a Paróquia ter muitos
leigos comprometidos, que se sacrificam pela comunidade e nos trabalhos
pastorais. “Fiquei impressionado com o amor e o carinho que as pessoas têm por
nós. As pessoas pegam o que têm e o que não têm e nos dão e ainda nos
agradecem. Isso me fez pensar como nossa responsabilidade é grande”, disse
Pedro.
A realidade
do entorno da Paróquia São Vito Mártir, no Brás, é peculiar, pois a região se
configura como um bairro quase que exclusivamente comercial com a presença de
muitos imigrantes, sobretudo chineses.
Assim, os
seminaristas destacaram que tais características dificultam muito o trabalho
pastoral continuado, pois a Paróquia torna-se uma igreja de transição e até
mesmo a participação nas missas fica comprometida devido à prioridade que às
pessoas dão ao comércio. Uma das alternativas sugeridas por eles foi a oração
do Terço nas casas e nos comércios vizinhos à Paróquia, para que a comunidade
comece a se formar de maneira mais consistente.
A missão na
Paróquia São Patrício, da Região Episcopal Lapa, concentrou-se, sobretudo, na
Comunidade Nossa Senhora de Fátima, no bairro São Remo. A região, que está na
periferia, é formada, sobretudo, por migrantes internos, a maior parte do Norte
e do Nordeste do País.
Ali, os
seminaristas disseram ver um povo muito acolhedor e que, com solicitude,
atendeu o convite dos seminaristas e participou ativamente das atividades
programadas na comunidade, como a missa diária e a procissão pelas vielas do
bairro com a imagem de Nossa Senhora de Fátima.
Realidade
semelhante viveram os seminaristas que estiveram na Paróquia Sagrada Família,
no Jardim Pery, da Região Episcopal Santana. Junto aos membros da Paróquia,
eles realizaram visitas às casas das pessoas, sobretudo com a Pastoral da
Pessoa Idosa e a Pastoral da Criança, rezaram todos os dias as Laudes, às 7h, e
as vésperas, à noite.
MISSÃO
PERMANENTE
No início da
partilha, que aconteceu na manhã da segunda-feira, 9, o Cardeal Odilo Pedro
Scherer falou sobre a relevância da experiência missionária para a
formação dos seminaristas. Ele recordou que a vida do missionário é esse
constante ir e vir. “É gastar a sola dos sapatos. Toda a nossa cidade é terra
de missão, nossas paróquias, nossos bairros e até nossas famílias. Missão se
faz aqui também e não é uma coisa que se faz só de vez em quando, mas faz parte
do dia a dia da vida da Igreja”, disse o Cardeal.
Dom Odilo
recordou as orientações do Documento de Aparecida e como a Igreja foi convidada
a sair de uma pastoral de conservação para uma verdadeira conversão
missionária: “Não podemos mais supor que todos estão na Igreja. As pessoas não
sabem mais nem onde está localizada a igreja mais próxima. Temos que ser uma
Igreja em saída, que vai ao encontro das pessoas. Que bom que vocês no
seminário estão fazendo essa missão anual, dentro do processo formativo.
Estamos formando padres missionários”.
DIÁCONOS
(permanecem dois meses em missão)
Pierre
Rodrigues da Costa – Diocese de Floriano (Piauí)
Maykom
Sammuel Alves Florêncio e
Anderson
Pereira Bispo – Diocese do Alto Solimões (Amazonas)
Maycon
Wesley da Silva – Diocese de Marabá (Pará)
Claudio
José Ribeiro – Diocese de Castanhal (Pará)
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Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Agosto de 2018
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br