domingo, 8 de setembro de 2013

O QUE HÁ DE TEOLÓGICO NO SOFRIMENTO

Gostamos de descrever o nosso sofrimento ou o dos outros, mas a pergunta fundamental é: o sofrimento nos comunica algo? Há um sentido no sofrimento?

Todos nós tivemos alguma experiência com o sofrimento, e nos foi comunicado algo maravilhoso ou angustiante, algo triste ou alegre; o Apóstolo São Paulo nos fala: “pois sabemos que a criação inteira geme e sofre as dores de parto até o presente” (Rm. 8,22)[1]. Nossa realidade é marcada por sofrimentos, seja no nível físico, emocional ou espiritual.   

Pretendo falar aqui das comunicações do sofrimento. Por quê sofrer? Como sofrer? Devemos sofrer sem jamais perder a alegria. “Agora regozijo-me nos meus sofrimentos por vós (...)” (Cl. 1,24)[2]. O sofrimento pode até ser regozijo, quando dou um sentido para ele, quando sei porque e para quem sofro.

Faz-nos falta dar um sentido para o sofrimento. Sofro por mim? Pelo outro? Por uma causa? Ou por minha condição humana? Quando descubro o sentido do sofrimento e busco o sentido de minha vida até mesmo no sofrimento, sou capaz de viver com alegria no sofrimento, sendo um alegre sofredor e um sofredor alegre.

Podemos entender o sofrimento humano, como uma sombra que caminha lado a lado com o homem; e ele se assusta com o sofrimento, pois não conhece o sofrer e tampouco está preparado para vivê-lo, esquecendo-se de que “o sofrimento parece ser, e é mesmo, quase inseparável da existência do homem”[3].

O homem, deve estabelecer uma relação de comunicação e aceitação com o sofrimento e também com Outro, buscando ajuda e apoio em seus momentos de dor. Quando ele percebe que seu semelhante não lhe pode ajudar ou dar as respostas às suas perguntas, recorre-se à Deus, reconhecendo-lhe como Pai e Criador de todos e de tudo, o único que agora pode dar-lhe respostas para compreensão e aceitação, neste momento tão difícil em sua vida. “O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a, como vemos na Revelação do Antigo Testamento. A pergunta encontrou a sua expressão mais viva no Livro de Jó”[4].

O que há de teológico no sofrimento é a relação do homem estabelecida com o sofrimento. Ele questiona e dialoga com o sofrimento; qual a sua causa e finalidade, e busca consolo e alívio para o seu sofrimento em Deus, conhecedor de todas de todas as profundezas dos seres e suas maiores angústias e tristezas. “Mas só o homem, ao sofrer, sabe que sofre e se pergunta o porquê; e sofre de um modo humanamente ainda mais profundo se não encontra uma resposta satisfatória”[5].

Creio que o sofrimento não seja um castigo de Deus, como pensam muitas pessoas, mas sim um meio de purificação dos sentidos e dos pensamentos, que no primeiro momento nos desestabiliza e nos desequilibra, porém, em um segundo momento, vem trazer-nos justiça e ordem, equilíbrio e harmonia para o espírito, os sentimentos e o nosso pensamento.

Frei Laércio R. da Cruz, OAR



[1] BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2006.
[2] Ibid.
[3] Cf. JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici Doloris – O sentido do sofrimento cristão, São Paulo: Paulinas, 1984, p 7.
[4] Ibid., p. 17.
[5] Ibid., p. 16.


Jornal Online “A Voz de Lourdes” - Setembro 2013
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - 
Revisão e Publicação: Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa - SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br