No início, as festas do
Natal e da Epifania eram uma celebração com um único e idêntico objetivo: a
Encarnação do Verbo, embora com diferentes matizes no Ocidente e no Oriente.
Essa diversidade de tom pode ser constatada pelas duas denominações.
No
Oriente, o mistério da Encarnação era celebrado no dia 6 de janeiro, com o nome
de Epifania (do grego Epipháneia); no Ocidente, isto é, em Roma, o mistério era
celebrado no dia 25 de dezembro com o nome de Natalis Domini. A distinção entre
as duas festas aconteceu entre o fim de século IV e o início do século V.
História do Natal
A primeira notícia que temos da festa de Natal em Roma, no documento chamado
"Cronógrafo Filocaliano" nos leva ao ano 336. Aí é fixada a festa do
nascimento de Cristo em Belém da Judéia no dia 25 de dezembro ( VIII Kal. Jan.)
. Através de Santo Agostinho viemos a saber que na metade do século IV o Natal
era celebrado como em Roma , também na África e na mesma data. Várias foram as
causas que contribuíram para o surgimento da celebração do Natal. Antes de tudo
, é pacífico que o 25 de dezembro não é historicamente o dia do nascimento de
Cristo, apesar da afirmação contrária de alguns autores antigos.
Essa data é indicada por antiga tradição, segundo a qual Jesus teria sido
concebido no mesmo dia e mês em que depois seria morto, isto é, no dia 25 de
março; conseqüentemente, o seu nascimento teria acontecido em 25 de dezembro.
Considera-se, porém, que essa tradição não determinou a origem da festa, mas
foi apenas uma tentativa de explicação, fruto de misticismo astrológico, muito
em voga na época. A explicação mais provável , porém, segundo os estudiosos,
deve ser procurada na tentativa da Igreja de Roma de suplantar a festa pagã do
"Natalis solis invicti)
No século III difundiu-se no
mundo grego-romano o culto ao sol, última afirmação do paganismo decadente.O
imperador Aureliano (+275) deu-lhe importância oficial, com a construção de um
templo em Roma, no Campo Marzio. Com Juliano Apóstata (+335), o culto ao sol tornou-se
símbolo da luta pagã contra o cristianismo. A principal festa desse culto era
celebrada no "Solstício de inverno, no dia 25 de dezembro" , porque
representava a vitória anual do sol sobre as trevas. Para afastar os fiéis
dessas celebrações idolátricas, com base numa temática bíblica ( cf. Ml 4,2; Lc
1,78; Ef 5,8-14) , a Igreja de Roma deu a tais festas pagãs um significado
diferente.
No momento em que se
celebrava o nascimento astronômico do sol, foi apresentado aos cristãos o
nascimento do verdadeiro sol, Cristo, que apareceu no mundo depois da longa
noite do pecado. Essa origem, ao mesmo tempo ideológica e apostólica, de
caráter bem diverso da celebração pascal, ligada aos grandes eventos da
redenção, explica porque o Natal pertença ao calendário solar e, portanto, como
festa fixa, diferente da Páscoa, que é móvel, porque ligada ao calendário
hebraico que é lunar.Um segundo fator que contribuiu para que as festas
natalinas se afirmassem foram as grandes heresias cristológicas dos séculos IV
e V, especialmente as de Ario , Nestório e Eutiques.
Essas heresias solapando na base o mistério da Encarnação e, como conseqüência
o valor da redenção anulavam o realidade teândrica de Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro Homem , nascido da Virgem Maria. A Igreja, com os grandes concílios
ecumênicos de Nicéia ( 325) ,Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia
(451), confutou tais erros e formulou o Dogma Cristológico.
Espiritualidade do Natal
Para compreender melhor as
solenidades do Natal é preciso ter presente o sentido original da celebração
chamada "manifestação do Senhor na carne". A liturgia do Natal
recorda todo o realismo da Encarnação terrestre do Verbo. O Filho de Deus não
se disfarça em homem mas, permanecendo Deus, é também real e concretamente homem;
Ele se manifesta na realidade total do homem . A graça própria da celebração do
Natal é a da nossa adoção divina. O "Nativitatis Christi sacramentum
" contém a graça para fazer-nos participantes da nobreza antiga, dada pela
filiação divina, mas depois perdida por causa do pecado. Desse modo passamos da
condição de "homem velho" para a condição de "filhos de
Deus".
O Mistério do Natal não nos
oferece somente um modelo para imitar a humildade e pobreza do Senhor que está
deitado na manjedoura, mas nos dá a graça de sermos semelhantes a Ele. A
manifestação do Senhor conduz o homem à participação da vida divina. Assim ,a
verdadeira espiritualidade do Natal não consiste na imitação de Cristo "do
lado de fora", mas "viver Cristo que está em nós" e manifestá-lo
com a vida no seu mistério de virgindade, obediência, pobreza e humildade.
Portanto, o fruto espiritual do Natal consiste no empenho moral de viver a
graça da Redenção e da Regeneração, de conservar interiormente o Espírito Santo
que nos faz filhos de Deus. Enfim, porque Deus nos faz filhos seus em Cristo,
inserindo-nos como membros da Igreja, a graça do Natal exige também uma vida de
comunhão fraterna.
O Empenho para fazer com que nossas assembléias celebrem um Natal autêntico é
difícil. O atual contexto sócio- cultural, com seus apelos para um "natal
mágico", consumista e turístico, aproveita uma forte tradição religiosa
para transformar a festa cristã em festa pagã .Uma visão devocional e
sentimental dos episódios da natividade do Senhor ( presépio, Missa da meia-
noite) corre o risco de esvaziar, na mente dos fiéis, o significado salvífico
do evento da Encarnação.
Nossa ação pastoral junto à
comunidade fiel e praticante deve ser forte e empenhativa: essa comunidade é
chamada a renovar a sua credibilidade, colocando-se como sinal de Cristo pobre
(cf. Lc2,12). A meditação do mistério da Encarnação e dos meios pobres, através
dos quais o Verbo encarnado revela a sua divindade e o seu messianismo, deve
trazer luz e força para o empenho de testemunho e de ação missionária da
comunidade que celebra o Natal do seu Senhor.
"Contra a grande
hipocrisia de vontade de paz e de sincera solidariedade, que atenua a má
consciência na troca de presentes; contra a presunção de uma paz realizável
unicamente pelo homem, e também contra a revolta verdadeiramente negativa ,
desesperada e cega diante de tal ordem social, o Natal opõe o evento de Jesus
Cristo, que nunca se deixa cooptar por esses cálculos e por essas
expectativas" ( cf. L. Della Torre, L' azionepastoralealle prese con l
'Avvento-Natale, in RPL 5/1979). A celebração do Natal não pode ser, então,
desperdiçada em recordações sentimentais ou discursos polêmicos, mas valorizada
como dom de amor, de verdade e de esperança para todos os homens do nosso
tempo.
Mesmo que o Natal tenha
surgido independentemente da Páscoa, não deve ser considerado como festa
paralela ou alternativa à Páscoa. É clara a orientação pascal do mistério da
Encarnação. Lucas, o evangelista da infância de Jesus vê no menino de Belém e
nos fatos que acompanham o seu nascimento, o anúncio do evento pascal.
Observe-se que todo o capitulo 2 do evangelho de Lucas foi escrito em
perspectiva pascal. São significativos os particulares evidenciados pelo
evangelista na narrativa do nascimento de Jesus, confrontados com a narrativa
da sua sepultura. O enfaixamento, que denota os cuidados maternais da mãe em
2,7 (cf. Ez 16,4, onde a ausência de enfaixamento é sinal de abandono), parece
tornar-se, em 2,12 sinal de impotência e fraqueza. Segundo A. Serra, isso parece
fazer parte de um jogo de alusões à morte de Cristo.
Lucas
2,7
Ela o enrolou em faixas e o acomodou na manjedoura Lucas 2,12 deitado (Keimenon) na manjedoura |
Lucas
23,53
E o enrolou em um lençol e o colocou no sepulcro. deitado (keimenos ) na cruz. |
Padre Gian Luigi Morgano
Para celebrar melhor o Natal acesse http://www.pnslourdes.com.br/lit_esp_natal.htm
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Dezembro 2014Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa - SPSite da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br