segunda-feira, 3 de agosto de 2015

MARIA NAS SAGRADAS ESCRITURAS

Por Frei Robson Machado, OSA

Refletimos sobre Maria, a mãe de Jesus. Na Sagrada Escritura, encontramos o testemunho normativo do plano de salvação de Deus, por essa razão podemos afirmar que não é possível, ao cristão, dizer que conhece a Escritura se despreza a importância de Maria no plano da salvação.

No Antigo Testamento encontra-se a descrição da criação do homem, feito à imagem e semelhança de Deus, convidado a participar de uma profunda intimidade com Ele. Mesmo diante do pecado do homem, o amor de Deus é incondicional.

Assim, Deus não abandona o homem, “sua imagem e semelhança” e, mesmo em estado de pecado, oferece-lhe o seu amor, sua graça e sua aliança. Assim, Deus fez aliança com Noé, Abraão, Moisés, com os reis e profetas de Israel (Davi, Elias, etc), sempre buscando salvar o ser humano.

Portanto, Deus revela-se a Israel por meio da Palavra dos Profetas e, depois revela-se por meio do Verbo encarnado – Jesus Cristo, plenitude da Revelação de Deus.

A plenitude da Revelação de Deus na história humana se cumpre em Maria. Portanto: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Assim, o Verbo de Deus habita no seio da Virgem Maria.

Maria foi quem primeiro recebeu a Palavra em seu coração e em sua carne, foi coberta pelo Espírito Santo e gerou o Cristo. O Novo Testamento relata não somente o nascimento do Filho de Deus, mas a eleição de uma jovem judia, a qual foi preparada, escolhida e santificada para que por ela os desígnios de Deus se cumprissem para o seu povo.

Isso também está refletido nos Evangelhos, que embora tenham por finalidade testemunhar a Boa-Nova pregada por Jesus, também testemunham sua origem e vocação. Vejamos, de forma breve, o que os evangelistas: Mateus, Lucas e João; destacam sobre Maria:

Mateus em seu Evangelho insere na genealogia o nome de mulheres (Tamar, Raab, Rute), as quais representam a ampliação das fronteiras da Aliança e da ação do Espírito Santo através da qual se revela uma nova possibilidade de salvação do pecado e da presença de Deus com os homens.

Segundo o evangelista São Mateus, em Maria se cumpre a profecia de Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho” (Is 7, 14). A visita dos magos (Mt 2, 1-12), representam a confirmação da realeza do menino que nasce.

No relato do Evangelho de São Lucas, Maria é exaltada como “o elo” que liga a Voz - João Batista à Palavra – Jesus Cristo. Assim, ao receber a mensagem do anjo, ela responde com generosidade e se coloca à serviço como discípula da Palavra.

Por meio do “Magnificat” (cf. Lc1, 39-56), Maria responde com generosidade e se coloca à serviço de sua prima Isabel. Portanto, Maria “proclama o magnificat”, com um canto dos oprimidos, que está no centro da proclamação que seu filho faz do Reino de Deus.

Sendo assim, no “Magnificat”, todas as gerações a proclamarão bem-aventurada e é justamente nessa passagem que se encontra a base escriturística de uma verdadeira devoção a Maria, desde que esteja vinculada ao seu papel de mãe do Messias.

O Evangelho de João menciona Maria em dois momentos importantes da vida de Jesus, as bodas de Caná e a Cruz. Um relato no começo de sua vida pública, em seu primeiro sinal e outro no final, na consumação de sua missão. No primeiro episódio Maria revela sua fé em seu filho, por isso é capaz de ordenar aos servos: “fazei tudo o que ele vos disser” e no segundo momento, Jesus, quando entrega Maria ao discípulo.

“Compreendidas em termos de discipulado, as palavras de Jesus agonizante dão a Maria um papel maternal na Igreja e animam a comunidade dos discípulos a acolhê-la como uma mãe espiritual (¹)”.

Assim, é na Sagrada Escritura que encontramos o testemunho escriturístico como um convite a todos os crentes e a todas as gerações, a conceber e proclamar Maria como bem-aventurada, pois sendo uma jovem judia de condição humilde, que como toda jovem de Israel esperava a justificação dos pobres, Deus olhou para ela e a cumulou de graças para que fosse a mãe de seu filho através da ação do Espírito Santo.

Maria deu o seu sim incondicional ao Pai para que se cumprisse através dela o plano salvífico de Deus. Portanto, “devemos bendizê-la como a escrava do Senhor”, aquela que acreditou e por isso, se cumpriu todas as Palavras da Profecia preditas pelos profetas deste do Antigo Testamento.

Ao olharmos para a imagem de Maria, possamos agradecer a Deus por ter se “abreviado” em nosso meio a nossa “imagem e semelhança” na pessoa de seu Filho Jesus Cristo e, por meio do seu Santo Espírito ter acumulado de graça Maria, tornando-a tão singela e forte ao mesmo tempo, capaz de acolher com alegria a mensagem do anjo e com sua vida testemunhar sua fé através de seu “sim” que foi para a vida inteira. Que nosso sim a Deus seja renovado todos os dias, como o “sim de Maria”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

COYLE, Katheen. Maria na tradição cristã: a partir de uma perspectiva contemporânea. São Paulo: Paulinas, 1999. pp. 24-30.

ARCIC (Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana), “Maria: graça e esperança em Cristo”, in: SEDOC Internacional, v. 38, n. 132. Petrópolis: Vozes, 2005. pp. 121-130.


(¹) SEDOC, Maria: graça e esperança em Cristo. V. 38, n. 132. Petrópolis: Vozes, 2005. p.130.


Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Agosto 2015
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa - SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br