Por Frei Robson Machado, OSA
Refletimos
sobre Maria, a mãe de Jesus. Na Sagrada Escritura, encontramos o testemunho
normativo do plano de salvação de Deus, por essa razão podemos afirmar que não
é possível, ao cristão, dizer que conhece a Escritura se despreza a importância
de Maria no plano da salvação.
No
Antigo Testamento encontra-se a descrição da criação do homem, feito à imagem e
semelhança de Deus, convidado a participar de uma profunda intimidade com Ele.
Mesmo diante do pecado do homem, o amor de Deus é incondicional.
Assim,
Deus não abandona o homem, “sua imagem e semelhança” e, mesmo em estado de
pecado, oferece-lhe o seu amor, sua graça e sua aliança. Assim, Deus fez
aliança com Noé, Abraão, Moisés, com os reis e profetas de Israel (Davi, Elias,
etc), sempre buscando salvar o ser humano.
Portanto,
Deus revela-se a Israel por meio da Palavra dos Profetas e, depois revela-se
por meio do Verbo encarnado – Jesus Cristo, plenitude da Revelação de Deus.
A
plenitude da Revelação de Deus na história humana se cumpre em Maria. Portanto:
“O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Assim, o Verbo de Deus
habita no seio da Virgem Maria.
Maria
foi quem primeiro recebeu a Palavra em seu coração e em sua carne, foi coberta
pelo Espírito Santo e gerou o Cristo. O Novo Testamento relata não somente o
nascimento do Filho de Deus, mas a eleição de uma jovem judia, a qual foi
preparada, escolhida e santificada para que por ela os desígnios de Deus se
cumprissem para o seu povo.
Isso
também está refletido nos Evangelhos, que embora tenham por finalidade
testemunhar a Boa-Nova pregada por Jesus, também testemunham sua origem e
vocação. Vejamos, de forma breve, o que os evangelistas: Mateus, Lucas e João;
destacam sobre Maria:
Mateus
em seu Evangelho insere na genealogia o nome de mulheres (Tamar, Raab, Rute),
as quais representam a ampliação das fronteiras da Aliança e da ação do
Espírito Santo através da qual se revela uma nova possibilidade de salvação do
pecado e da presença de Deus com os homens.
Segundo
o evangelista São Mateus, em Maria se cumpre a profecia de Isaías: “Eis que uma
Virgem conceberá e dará à luz um filho” (Is 7, 14). A visita dos magos (Mt 2,
1-12), representam a confirmação da realeza do menino que nasce.
No
relato do Evangelho de São Lucas, Maria é exaltada como “o elo” que liga a Voz
- João Batista à Palavra – Jesus Cristo. Assim, ao receber a mensagem do anjo,
ela responde com generosidade e se coloca à serviço como discípula da Palavra.
Por
meio do “Magnificat” (cf. Lc1, 39-56), Maria responde com generosidade e se
coloca à serviço de sua prima Isabel. Portanto, Maria “proclama o magnificat”,
com um canto dos oprimidos, que está no centro da proclamação que seu filho faz
do Reino de Deus.
Sendo
assim, no “Magnificat”, todas as gerações a proclamarão bem-aventurada e é
justamente nessa passagem que se encontra a base escriturística de uma
verdadeira devoção a Maria, desde que esteja vinculada ao seu papel de mãe do
Messias.
O
Evangelho de João menciona Maria em dois momentos importantes da vida de Jesus,
as bodas de Caná e a Cruz. Um relato no começo de sua vida pública, em seu
primeiro sinal e outro no final, na consumação de sua missão. No primeiro
episódio Maria revela sua fé em seu filho, por isso é capaz de ordenar aos
servos: “fazei tudo o que ele vos disser” e no segundo momento, Jesus, quando
entrega Maria ao discípulo.
“Compreendidas
em termos de discipulado, as palavras de Jesus agonizante dão a Maria um papel
maternal na Igreja e animam a comunidade dos discípulos a acolhê-la como uma
mãe espiritual (¹)”.
Assim,
é na Sagrada Escritura que encontramos o testemunho escriturístico como um
convite a todos os crentes e a todas as gerações, a conceber e proclamar Maria
como bem-aventurada, pois sendo uma jovem judia de condição humilde, que como
toda jovem de Israel esperava a justificação dos pobres, Deus olhou para ela e
a cumulou de graças para que fosse a mãe de seu filho através da ação do
Espírito Santo.
Maria
deu o seu sim incondicional ao Pai para que se cumprisse através dela o plano
salvífico de Deus. Portanto, “devemos bendizê-la como a escrava do Senhor”,
aquela que acreditou e por isso, se cumpriu todas as Palavras da Profecia
preditas pelos profetas deste do Antigo Testamento.
Ao
olharmos para a imagem de Maria, possamos agradecer a Deus por ter se “abreviado”
em nosso meio a nossa “imagem e semelhança” na pessoa de seu Filho Jesus Cristo
e, por meio do seu Santo Espírito ter acumulado de graça Maria, tornando-a tão
singela e forte ao mesmo tempo, capaz de acolher com alegria a mensagem do anjo
e com sua vida testemunhar sua fé através de seu “sim” que foi para a vida
inteira. Que nosso sim a Deus seja renovado todos os dias, como o “sim de
Maria”.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA:
COYLE,
Katheen. Maria na tradição cristã: a partir de uma perspectiva
contemporânea. São Paulo: Paulinas, 1999. pp. 24-30.
ARCIC (Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana), “Maria: graça e esperança em Cristo”, in: SEDOC Internacional, v. 38, n. 132. Petrópolis: Vozes, 2005. pp. 121-130.
(¹) SEDOC, Maria: graça e esperança em Cristo. V. 38, n. 132. Petrópolis: Vozes, 2005. p.130.
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa - SP
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