A Virgem Maria
Entre todas as mulheres, Maria é a
única a ser ao mesmo tempo Virgem e Mãe, não somente segundo o espírito, mas
também pelo corpo. Ela é mãe conforme o espírito, não d’Aquele que é nossa
Cabeça, isto é, do Salvador do qual ela nasceu, espiritualmente. Pois todos os
que nele creram – e nesse número ela mesma se encontra – são chamados, com
razão, filhos
do Esposo (filii sponsi) (Mt 9,15). Mas,
certamente, ela é mãe de seus membros, segundo o espírito, pois cooperou com
sua caridade para que nascessem os fiéis na Igreja – os membros daquela divina
Cabeça – da qual ela mesma é, corporalmente, a verdadeira mãe. Convinha, pois,
que nossa Cabeça, por insigne milagre, nascesse segundo a carne de uma virgem,
dando a entender que seus membros, que somos nós, haviam de nascer segundo o
Espírito dessa outra virgem que é a Igreja. Somente Maria, portanto, é mãe e
virgem, no espírito e no corpo. É Mãe de Cristo e também Virgem de Cristo.
[A Virgem Maria – Cem textos marianos
com comentários. 4ª. ed. Trad. Nair de Assis Oliveira. – São Paulo: Paulus,
2007, p. 55].
Referindo-se à importância do
pensamento agostiniano para o desenvolvimento e sedimentação da mariologia,
afirma Ir. Nair de Assis Oliveira, Cônega de Santo Agostinho e Assessora do
Centro de Estudos Agostinianos, no texto introdutório ao livro A
Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários: Nossa
mariologia católica atual deve muitíssimo ao grande mestre Agostinho. Suas
reflexões contribuíram de maneira decisiva para a difusão do conhecimento e da
devoção a Maria em toda a Igreja. A tal ponto que podemos afirmar, sem receio
de exagero, que a substância do culto mariano de nossos dias encontra na obra
agostiniana uma de suas mais convincentes e calorosas explicitações (p. 16).
Embora santo Agostinho não tenha
dedicado uma obra exclusiva a Maria, o tema é recorrente em diversos escritos
seus, conforme Ir. Nair, além do que teria sido o bispo de Hipona um dos
grandes responsáveis pela disseminação da devoção à Virgem Maria a partir de
meados do século V.
O livro aqui apresentado teve como
referência uma outra obra, de autoria do cardeal Michele Pellegrino
(1903-1987), publicada em 1954. Em que pese a referência, porém, este que ora
comentamos traz alguns acréscimos e supressões em relação àquele.
Os cem textos aqui apresentados são
divididos em três grupos: textos extraídos das obras redigidas do ano 388 a
411, trechos de sermões pronunciados do ano de 391 a 430 e, por último, textos
extraídos dos escritos do ano 412 a 430. A cada texto do santo foi acrescentado
um comentário explicativo.
A leitura dos escritos de santo
Agostinho é sempre fonte de inesgotável prazer. Sua capacidade de conduzir o
leitor pelos meandros do seu raciocínio sempre dotado de grande poder
persuasivo é invejável. Mesmo não sendo um agostinólogo, pois conheço pouco a
obra do santo Doutor, e percebo em seus escritos o uso de uma forma de
raciocínio que prima pela clareza. Começa-se a ler santo Agostinho e a vontade
que se tem é de não mais parar. Na apresentação que faz dos argumentos aduzidos
para sustentar seus pontos de vista, calcados numa lógica insofismável, o
santo segue uma linha de raciocínio tal que se torna difícil ao leitor
contradizê-lo.
Além dos aspectos acima apontados, a
beleza da escrita agostiniana encanta a cada trecho, a cada linha. Quase
sempre, quando o tema é Maria, os escritores fazem vir a lume o que há de mais poéticos
em si mesmos. Parece que apenas o intuito de escrever sobre a Virgem Maria já
constitui garantia suficiente de que dali brotará um texto poético. No caso de
santo Agostinho, o leitor que se permitir o prazer de folhear o livro aqui
comentado será agraciado com alguns textos de extrema beleza, como o que cito a
seguir:
Exultem de gozo os homens! Exultem de
alegria as mulheres! Cristo nasceu homem e nasceu de uma mulher. Nele, ambos os
sexos estão dignificados. Que se voltem para o segundo homem todos os que
haviam sido condenados com o primeiro (Adão). Uma mulher nos induzira à morte.
Uma outra trouxe-nos a Vida. Dela nasceu um filho, semelhante à carne de pecado
(Rm 83,). Assim, pois, não culpemos a carne, mas para que viva a natureza,
morra a culpa. Pois nasceu sem pecado Aquele em quem devia renascer o que se
achava na culpa (p. 84).
Autor:
Vasco Arruda- Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Maio de 2017
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
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Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br
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