A morte como oportunidade de encontro com Cristo
Vou
escrever sobre a morte a partir da minha experiência de ter perdido uma pessoa
que muito amo nesta vida. Desde pequeno evitava falar na possibilidade de
morrer, como se isso jamais aconteceria comigo.
Aos
catorze anos de idade fiz a experiência de perder alguém que tanto amo: meu
pai. Assistir alguém no seu último suspiro, e não poder fazer nada por esta
pessoa, é algo indescritível.
Mais
difícil ainda, foi ter que dar a noticia à minha mãe e consolar uma irmã de
nove anos de idade e um irmão de dez. Hoje, percebo o quanto eu cresci e amadureci
pela fé e oração, com essa experiência de ver alguém que tanto amo partir,
sabendo que não o veria no dia seguinte.
Porém,
essa experiência mudou de forma positiva toda a minha vida. A morte do meu pai
colocou-me diante de uma realidade nua, crua e dura, no qual experimentei toda
a minha fragilidade, medo e questionamentos.
Perguntava-me
o que era a morte? Porque temos que morrer? E aos poucos, fui percebendo que na
verdade meu maior medo não era de morrer, porém, de viver! Passei a aceitar e compreender
o que era a morte, somente no momento em que passei a aceitar e compreender a
vida.
A
vida é cheia de dúvidas, medos, angústias e enfermidades, e a única certeza
absoluta que temos durante nossa caminhada nesta terra é que vamos morrer.
Deveríamos
nos preocupar constantemente como estamos vivendo a nossa vida e qual o sentido
e significado que dou a esse dom tão precioso recebido de Deus. Por isso, penso
que deveríamos trocar o nosso medo da morte, pelo sorrir para a morte. Quando
vivemos nossa vida com fé, esperança e amor em Cristo Jesus – caminho, verdade
e vida, somos capazes de sorrir para a morte e fazermos nossa passagem em paz e
ao mesmo tempo aceitar a passagem de nossos entes queridos.
Hoje
tenho a oportunidade de acompanhar os velórios no cemitério da Lapa e celebrar
com as famílias as exéquias nos domingos, pela manhã e pela tarde. Gosto de
falar para as pessoas que perderam seus entes queridos que antes de celebrarmos
a morte, devemos celebrar a vida. Então, podemos nos perguntar: o que a morte
diz para nós? Ela é uma realidade que desperta em nós desespero ou esperança?
Dúvida ou fé? Medo ou amor?
A
morte sempre nos impressionará não por ela ser a morte de uma pessoa conhecida
ou desconhecida nossa, mas pelo simples fato de que ela continuará a existir
para a nossa realidade humana, podendo ser até um grande escândalo para a nossa
realidade corporal, porém, não para a nossa realidade espiritual.
Hoje,
compreendo melhor e posso afirmar isso para muitas pessoas: pelo fato de
morrer, nós não saímos do caminho das pessoas que aqui ficam, somente passamos
para o outro lado do caminho. Um caminho que já não é mais o caminho físico,
porém, um caminho espiritual. Morremos para vivermos agora nos sentimentos e
nos pensamentos das pessoas que aqui deixamos e que vamos encontrá-las em
Cristo Jesus, na Vida Eterna, onde todos viverão para sempre.
Nossa
vida é como uma pequena sementinha, que lançada na terra, crescerá,
multiplicará e morrerá. Ignorar ou fingir que a morte não existe, é negar o autêntico
valor da vida. O que mais deveria nos intrigar ou entristecer, é que depois da
morte de uma pessoa, tudo entra de novo na rotina como se ela nem tivesses
existido.
Para
mim, o que há de teológico na morte é a esperança no Amor, e Deus para nós é a
fonte inesgotável desse amor. A esperança faz-nos dizer sim a uma realidade já
percebida de forma parcial, porém, não em plenitude ainda, porque ela faz
despontar em meu coração o sentimento do amor. No amor há e sempre haverá uma
perspectiva de esperança.
Frei
Laércio da Cruz, OAR.
Jornal Online “A Voz de Lourdes” - Novembro 2013
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação:
Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila
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