"Veio
para curar os olhos do nosso interior, para que, uma vez curados, nós, que
antes éramos escuridão, nos convertêssemos em luz no Senhor. E assim, ao olhar
para ela, pudéssemos resplandecer em toda sua claridade" ((Santo Agostinho -
Sermão 195, 3).
"Quis
(Cristo) nascer hoje no tempo para levar-nos até à eternidade do Pai. Deus
fez-se homem para que o homem se fizesse Deus... O homem pecou e converteu-se
em réu; Deus nasceu como homem, para que fosse libertado o réu. O homem caiu,
porém Deus desceu. Caiu o homem miseravelmente, desceu Deus
misericordiosamente; caiu o homem pela soberbia, desceu Deus com sua
graça" (Santo Agostinho - Sermão 13).
"Deus
enviou-nos o seu Filho, para que, participando da nossa mortalidade por amor,
nos fizesse participantes da sua divindade por adopção"(Santo Agostinho -
Sermão 121, 1)
"Tanto
nos amou que por nós foi feito no tempo aquele por quem foram feitos os tempos
(...) Tanto nos amou que se fez homem o que fez o homem" (Santo Agostinho
- Sermão 188, 2).
Belém é, pois, para nós, uma lição
eloquente. Com o seu nascimento na silente noite de Belém, o Menino divino, diz
S. Agostinho, «mesmo sem dizer nada, deu-nos uma lição, como se irrompesse num
forte grito: que aprendamos a tornar-nos ricos nele que se fez pobre por nós;
que busquemos nele a liberdade, tendo Ele mesmo assumido por nós a condição de
servo; que entremos na posse do céu, tendo Ele por nós surgido da terra».
«Reconheçamos o verdadeiro dia e
tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo.
E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro,
aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de Natal de Jesus
nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos,
festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por
causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol.
Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob
este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o
universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu
corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar
de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça» (S. Agostinho).
Deus fez-se homem para que o homem
venha a ser divino
Nesta sentença recorrente nos
escritores cristãos antigos está sintetizado o significado profundo do Natal.
Voltemos a dar a voz a S. Agostinho: «Hoje nasceu para nós o Salvador. Nasceu,
portanto, para todo o mundo o verdadeiro sol. Deus Fez-se homem para que o
homem se fizesse Deus. Para que o escravo se tornasse senhor, Deus assumiu a
condição de servo. Habitou na terra o morador do céu para que o homem,
habitante da terra, pudesse encontrar morada nos céus». E, num outro sermão de
Natal, o bispo de Hipona volta a recordar que Deus, em Belém, se fez pobre para
nos enriquecer com os seus dons:
«Ele está deitado numa manjedoura, mas
contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio
em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também
adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no
coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a
prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais
admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a
sua imensa dignidade se humilhou por nós».
A Verdade brotou da terra
A Palavra vinda do Céu fecundou a
terra e desta brotou a verdade e a justiça.
Uma das preocupações constantes dos
Padres da Igreja vai ser a de afirmar que o Filho de Deus é também filho de
Maria, isto é, o Menino de Belém é todo Deus e todo homem: «Aquele que estava
deitado na manjedoura fez-se frágil, mas não renunciou à sua condição divina;
assumiu aquilo que não era, mas permaneceu aquilo que era. Eis que temos diante
de nós Cristo menino: cresçamos juntamente com Ele», diz S. Agostinho. O bispo
hiponense, num outro sermão, dirige-se ao seu povo nestes termos:
«Chama-se dia do Natal do Senhor a
data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus,
sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores
pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta
festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A
verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu (Sl 84,12)».
Esta afirmação retomada do salmo 84
servirá de mote a vários dos sermões natalícios de Agostinho. Num outro sermão,
o bispo de Hipona explica o significado profundo de tal expressão:
«Neste dia, o Verbo de Deus
revestiu-se de carne e nasceu de Maria virgem. Nasceu de modo admirável... Donde
veio Maria? De Adão. Donde veio Adão? Da terra. Se Adão veio da terra e Maria
de Adão, também Maria é terra. E se Maria é terra, entendemos quando cantamos:
a verdade brotou da terra».
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Dezembro de 2016
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br