SOBRE O CAPÍTULO
GERAL DA ORDEM DOS AGOSTINIANOS RECOLETOS
Discurso Prior Geral Papa Francisco
Santo
Padre:
Nós,
os Agostinianos Recoletos, estamos celebrando em Roma nosso 55º Capítulo Geral.
Obrigado, Santidade, por nos receber nesta audiência. Agradecemos vosso
magistério e serviço de caridade. Vosso testemunho evangélico e vossas palavras
nos tocam o coração.
Somos
uma Ordem com mais de quatro séculos de historia a serviço da Igreja, tanto no
campo missionário quanto na pastoral paroquial e educativa. Somos 1.045
religiosos presentes em dezenove nações. Desejamos reviver o espírito de santo
Agostinho e, como aqueles primeiros recoletos do século XVI, também nós, hoje,
nos sentimos chamados a buscar aquilo que mais nos abrasa no amor a Deus e aos
irmãos.
O
capítulo geral anterior nos propôs o objetivo de revitalizar e reestruturar a
Ordem para responder, a partir da identidade carismática, aos desafios da nova
evangelização. Nestes seis anos, pedimos ao Senhor que nos infunda seu Espírito
para discernir qual a sua vontade a nosso respeito e o quê a Igreja espera nós.
Desejamos reorganizar a Ordem para que, partindo do encontro com Cristo,
reavivemos com audácia o espírito contemplativo, comunitário e missionário do
nosso carisma. Necessitamos avançar em processo de conversão pessoal,
comunitário e pastoral.
Santo
Padre, não tem sido fácil para nós. Somos conscientes de que, se não nos
mudamos, pouca serventia terão os projetos de reestruturação. Posso vos dizer,
ciente que este é o sentimento de muitos de meus irmãos, que, para nossa Ordem,
seu pontificado está sendo providencial. Está nos sacudindo de nossas rotinas e
do cômodo critério pastoral do «sempre se fez assim»; tem revelado nossas
ambiguidades, nossos medos; e tem feito fissuras em antigas seguranças. Agora
nos sentimos mais convencidos da nossa necessidade de partir do encontro com
Cristo, de converter-nos, de mudar nossas pessoas e nossas estruturas. Vossa
Santidade nos ensina e dá ânimo com vossas palavras e vossas obras. E não só
isso. Também desperta o sentido profético de nossa vida e nos indica o estilo
que devemos assumir como nosso: da simplicidade, audácia, alegria. E também de
comunhão, permitindo que o Senhor, com a força de seu Espírito, nos una na
comunidade e nos faça avançar na mesma direção, de maneira que nossas
comunidades sejam, enquanto tais, evangelizadoras.
Propusemos
como lema de nosso capítulo aquela oração que brotava do coração inquieto de
santo Agostinho: “Toda minha esperança está em tua grande misericórdia; dá-nos,
Senhor, o que mandas e manda o que queiras” (Confissões X, 40). Este Ano da
Misericórdia é um chamado a abrir nosso coração.
Santo
Padre, falai-nos claramente. Esperamos que nos orienteis e nos exorteis a ser
coerentes para viver com alegria o carisma recebido, e para que nossas
comunidades estejam ao serviço da Igreja, especialmente ao serviço daqueles que
são mais pobres. Queremos estar próximo de tantas pessoas que pedem uma vida
digna e também daqueles que têm uma profunda necessidade de Deus.
Pedimos
vossa bênção para toda a família agostiniano-recoleta.
Rezamos
por Vossa Santidade. Papa Francisco, contai conosco.
DISCURSO DO PAPA
FRANCISCO AOS MEMBROS DO 55º CAPÍTULO GERAL DOS AGOSTINIANOS RECOLETOS
Queridos
irmãos:
Dou-vos
as boas-vindas e agradeço ao Padre Geral as amáveis palavras que me dirigiu em
nome de toda a Família Agostiniana Recoleta. E como ele mesmo disse, para este
55º Capítulo Geral, tomaram como lema uma oração que sai do mais íntimo do
coração de Santo Agostinho: “Toda nossa esperança está em tua grande
misericórdia. Dá-nos o que mandas e manda o que queres” (Confissões, 10, 29, 40).
Esta invocação nos conduz a ser homens de
esperança, ou seja, com horizonte, capazes de colocar toda nossa confiança na
misericórdia de Deus, conscientes de que somos incapazes de afrontar, somente
com nossas forças, os desafios que o Senhor nos propõe.
Reconhecemo-nos
pequenos e indignos; mas em Deus está nossa segurança e alegria. Ele jamais
defrauda e é ele quem, por caminhos misteriosos, nos conduz com amor de Pai.
Neste capítulo geral quiseram revisar e colocar ante Deus a vida da Ordem, com
seus anseios e desafios, para que seja Ele quem lhes dê luz e esperança. Para
buscar a renovação e o impulso, é necessário regressar a Deus e pedir-lhe:
“Dá-nos o que mandas”.
Pedimos
o mandamento novo que Jesus nos deu: “Que vos ameis uns aos outros, como eu vos
amei” (Jo 13, 34). É o que imploramos que Ele nos dê: seu amor, para sermos
capazes de amar. Deus nos deu de muitas maneiras este amor; Deus sempre nos
está concedendo este seu amor e se faz presente em nossa vida. Olhamos o
passado e agradecemos por tantos dons recebidos. E este nosso percurso
histórico o faremos conduzidos pelas mãos do Senhor, porque ele é quem nos dá a
chave da interpretação. Não se trata de fazer história sem mais, senão de
descobrir a presença do Senhor em cada acontecimento, em cada etapa da vida. O
passado nos ajuda a retornar ao carisma e a saboreá-lo em toda sua jovialidade
e inteireza.
Também
nos dá a possibilidade de sublinhar as dificuldades que surgiram e como foram
superadas, para poder enfrentar os desafios atuais, com o olhar em direção ao
futuro. Este caminho percorrido com Jesus se tornará oração de ação de graças e
purificação interior. A grata memória de seu amor em nosso passado nos
impulsiona a viver o presente com paixão e de maneira cada vez mais corajosa;
então sim poderemos pedir-lhe: “Manda o que queres”. Isto implica liberdade de
espírito e disponibilidade. Deixar-se mandar por Deus significa que ele é o
patrão de nossa vida e não há outro. E sabemos muito bem que, se Deus não ocupa
o lugar que lhe corresponde, outros farão por ele.
E
quando o Senhor está no centro de nossa vida tudo é possível; não conta nem o
fracasso nem algum outro mal, porque ele é quem está no centro; ele é quem nos
dirige. De modo especial neste momento, nos Ele pede que sejamos “criadores de
comunhão”. Somos chamados a criar, com nossa presença no meio do mundo, uma
sociedade capaz de reconhecer a dignidade de cada pessoa e de compartilhar o
dom que cada um é para o outro. Com nosso testemunho de comunidade, viva e
aberta ao que nos manda o Senhor, através do sopro de seu Espírito, poderemos
responder às necessidades de cada pessoa com o mesmo amor com que Deus nos
amou. Tantas pessoas estão esperando que saiamos ao seu encontro e as olhemos
com a mesma ternura que experimentamos e recebemos da nossa familiaridade com
Deus. Este é o poder que levamos; não o de nossos ideais e projetos próprios;
senão a força de sua misericórdia que transforma e vivifica.
Queridos
irmãos, vos convido a manter, com espírito renovado, o sonho de Santo
Agostinho, de viver como irmãos “com um só coração e uma só alma” (Regra 1, 2),
espelhando o ideal dos primeiros cristãos e sendo profecia viva de comunhão
neste nosso mundo, para que não haja divisão, nem conflitos nem exclusão, mas
reine a concórdia e promova o diálogo. Coloco sob o amparo de Nossa Mãe, a
Virgem Maria, as intenções e projetos da Ordem, para que vos oriente e proteja.
E não se esqueçam de rezar por mim, e transmitam minha benção a toda a família
agostiniana recoleta.
Muito
obrigado!
Papa
Francisco
Audiência, 20 de Outubro de 2016
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Dezembro de 2016
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br