Jornal Online “A Voz de Lourdes” - Março 2013
Estresse: Entender para Controlar
Por: Vanusa Coelho Rodrigues
Na última Copa do Mundo de Futsal da FIFA, em novembro, o jogador Falcão entrou em quadra com o lado direito do rosto paralisado. O cantor Gian, da dupla sertaneja Gian e Giovani, foi hospitalizado, no início de dezembro, com fortes dores no peito e o ator Robert Mitchum, astro de filmes como “Cabo do Medo” e “A filha de Ryan”, teve cegueira temporária. O diagnóstico dos médicos em todos os casos? Estresse.
Na engenharia o termo “estresse” é empregado para indicar o ponto de ruptura de um material quando exposto a condições excessivas de cansaço. No dia a dia dizemos que o individuo está estressado quando se apresenta irritado e/ou nervoso.
Mas o que de fato é o estresse? O dicionário Aurélio descreve estresse como "o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase", ou seja, agressões capazes de perturbar o equilíbrio.
Assim, percebemos que o estresse não é uma doença, é, na verdade, a reação do organismo para lidar com as situações que se apresentam, sendo, portanto, uma resposta do organismo a um estímulo, com reações variáveis de indivíduo para indivíduo. Logo, o prolongamento do estado de estresse é que pode levar a pessoa a sentir inquietações física, psíquica e/ou emocional.
Deste modo, há um nível de estresse saudável denominado de “eustresse” em que o organismo produz a adrenalina que nos dá ânimo e energia, tornando-nos mais produtivos e criativos. O perigo surge, porém, com o “distresse”, ou seja, o estresse em excesso.
Esse estresse negativo ocorre quando a pessoa excede seus limites surgindo, assim, as alterações patológicas indicando elevação do nível de estresse.
Mas como isso ocorre? Explicando muito resumidamente, podemos dizer que situações de perigo ou de desafio levam o organismo a um estado de alerta acionando uma resposta do cérebro que dispara cargas de cortisol e adrenalina na corrente sanguínea. Esses hormônios são responsáveis por acelerar o coração, reter mais energia e nos manter mais atentos. Contudo, os níveis de cortisol e adrenalina devem voltar ao normal assim que a situação estressante terminar para que não entremos no “distresse”, pois, se o cortisol for excessivo, por exemplo, a memória começa a ficar prejudicada e as defesas do corpo começam a diminuir causando doenças.
Portanto, quando não conseguimos descansar depois de uma situação estressante o nível de cortisol se mantém alto e constante dia e noite prejudicando a recuperação do corpo. E é essa condição de estresse excessivo que pode desencadear sintomas físicos e/ou psíquicos como, por exemplo, o que ocorreu com o jogador Falcão, o cantor Gian e o ator Robert Mitchum.
Assim, como podemos perceber, quando a pessoa encontra-se estressada, o organismo pode reagir dos mais diferentes modos, dependendo do nível de estresse alcançado.
Sabe-se que os problemas da vida cotidiana, grandes ou pequenos, podem nos conduzir ao estresse. Deste modo, pesquisadores, analisando e estudando o estresse, observaram que a mudança é um dos mais ativos causadores de estresse. Sendo assim, qualquer mudança (tanto as boas quanto as más) tem o potencial de causar estresse, pois, o novo ou o desconhecido costumam nos causar medo e desconforto.
O estresse sucede de forma variável nos indivíduos e depende da magnitude do evento e/ou mudança, que pode ir desde a morte do esposo/esposa (a referência máxima na escala de estresse) até pequenos problemas no trânsito.
A própria dinâmica do mundo atual, apesar de proporcionar maior conforto, comodidade e facilidades tecnológicas, propiciam também o aparecimento de inúmeras circunstâncias estimuladoras do estresse. Portanto, os estímulos promovidos pela mídia e meios de comunicação, assim como, o trabalho em excesso também são fatores catalisadores de estados estressantes.
Pesquisas indicam que nos dias atuais o estresse atinge cerca de 60% dos executivos. Muitas vezes são jornadas de mais de oito horas de trabalho que tomam conta da rotina diária do individuo, impossibilitando sua recuperação física e mental estrangulando o tempo de descanso e lazer. Assim, muitos dos problemas relacionados ao estresse surgem no próprio local de trabalho ocasionando um impacto na vida do indivíduo interferindo, inclusive, na qualidade e desempenho de suas tarefas profissionais.
As cobranças e metas em excesso, assim como, prazos apertados deixam o funcionário sobrecarregado, gerando um desequilíbrio entre vida profissional e pessoal. Em consequência disso à pessoa se distância da família e amigos, não tem tempo para lazer, vive alienado em seu trabalho e passa a ficar cada vez mais estressada.
Assim, o estresse negativo leva a uma deterioração do ambiente de trabalho, das relações interpessoais, assim como, à diminuição de produtividade e desempenho, pois, o cortisol em excesso ocasiona uma espécie de travamento mental, causando dificuldade de memória, concentração e raciocínio impedindo-nos de enxergar soluções para os problemas.
Portanto, chega-se a conclusão de que a pessoa com uma dose ideal de estresse apresentará maior resistências e melhor rendimento às tarefas do que o individuo com estresse excessivo. Além disso, a pessoa sente-se mais motivada a realizar as suas funções e atividades profissionais.
Assim sendo, alimentação imprópria, trabalho em exagero, lazer escasso, consumismo exagerado etc. são alguns fatores que originam o estresse e o consequente desencadeamento de doenças que vão, por exemplo, de um aumento de glicemia a fatores desencadeadores da síndrome do pânico.
Diante desse contexto, sabemos que nem sempre podemos evitar os estímulos desfavoráveis do cotidiano, porém, podemos administrá-los, criando estratégias para evitar o estresse negativo. Assim sendo, fazer exercícios físicos, dormir bem e ter horas de lazer ajudam a reduzir os níveis excessivos de adrenalina e cortisol do organismo.
Pode-se, também, planejar a rotina de modo a reservar um período para compartilhar atividades junto à família, assim como, melhorar a qualidade do relacionamento com as pessoas, aprendendo a ter, por exemplo, autocontrole ao começar a ficar irritado. Incluir no dia a dia uma atividade que traga prazer como esporte, leitura, arte etc., assim como, estabelecer um bom hábito alimentar e de descanso são medidas profiláticas de grande auxílio.
Porém, nada disso terá resultado se não evitarmos fomentar pensamentos negativos e atitudes agressivas. Por isso, policie seus pensamentos e quando possível afaste-se de situações negativas. O mais importante é conhecer-se para estabelecer limites e ter disciplina para proteger e resguardar esses limites. E lembre-se: estresse por períodos frequentes e/ou prolongados provoca adoecimento e, se o indivíduo não conseguir controlar os níveis de estresse sozinho, deve procurar ajuda profissional.
Vanusa Coelho Rodrigues (*)
(*) Graduada em Ciências Contábeis e Letras/Inglês. Especialista em Neuroaprendizagem e em Psicopedagogia Clínica e Institucional. É Personal Coach e Practitioner em Programação Neurolinguística. Possui MBA em Recursos Humanos; certificação em Mediação PEI e Curso de aperfeiçoamento em TODA e TDAH.