segunda-feira, 1 de maio de 2017

REFLETINDO COM SANTO AGOSTINHO

A Virgem Maria

Entre todas as mulheres, Maria é a única a ser ao mesmo tempo Virgem e Mãe, não somente segundo o espírito, mas também pelo corpo. Ela é mãe conforme o espírito, não d’Aquele que é nossa Cabeça, isto é, do Salvador do qual ela nasceu, espiritualmente. Pois todos os que nele creram – e nesse número ela mesma se encontra – são chamados, com razão, filhos do Esposo (filii sponsi) (Mt 9,15). Mas, certamente, ela é mãe de seus membros, segundo o espírito, pois cooperou com sua caridade para que nascessem os fiéis na Igreja – os membros daquela divina Cabeça – da qual ela mesma é, corporalmente, a verdadeira mãe. Convinha, pois, que nossa Cabeça, por insigne milagre, nascesse segundo a carne de uma virgem, dando a entender que seus membros, que somos nós, haviam de nascer segundo o Espírito dessa outra virgem que é a Igreja. Somente Maria, portanto, é mãe e virgem, no espírito e no corpo. É Mãe de Cristo e também Virgem de Cristo.

[A Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários. 4ª. ed. Trad. Nair de Assis Oliveira. – São Paulo: Paulus, 2007, p. 55].

Referindo-se à importância do pensamento agostiniano para o desenvolvimento e sedimentação da mariologia, afirma Ir. Nair de Assis Oliveira, Cônega de Santo Agostinho e Assessora do Centro de Estudos Agostinianos, no texto introdutório ao livro A Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários: Nossa mariologia católica atual deve muitíssimo ao grande mestre Agostinho. Suas reflexões contribuíram de maneira decisiva para a difusão do conhecimento e da devoção a Maria em toda a Igreja. A tal ponto que podemos afirmar, sem receio de exagero, que a substância do culto mariano de nossos dias encontra na obra agostiniana uma de suas mais convincentes e calorosas explicitações (p. 16).

Embora santo Agostinho não tenha dedicado uma obra exclusiva a Maria, o tema é recorrente em diversos escritos seus, conforme Ir. Nair, além do que teria sido o bispo de Hipona um dos grandes responsáveis pela disseminação da devoção à Virgem Maria a partir de meados do século V.

O livro aqui apresentado teve como referência uma outra obra, de autoria do cardeal Michele Pellegrino (1903-1987), publicada em 1954. Em que pese a referência, porém, este que ora comentamos traz alguns acréscimos e supressões em relação àquele.

Os cem textos aqui apresentados são divididos em três grupos: textos extraídos das obras redigidas do ano 388 a 411, trechos de sermões pronunciados do ano de 391 a 430 e, por último, textos extraídos dos escritos do ano 412 a 430. A cada texto do santo foi acrescentado um comentário explicativo.

A leitura dos escritos de santo Agostinho é sempre fonte de inesgotável prazer. Sua capacidade de conduzir o leitor pelos meandros do seu raciocínio sempre dotado de grande poder persuasivo é invejável. Mesmo não sendo um agostinólogo, pois conheço pouco a obra do santo Doutor, e percebo em seus escritos o uso de uma forma de raciocínio que prima pela clareza. Começa-se a ler santo Agostinho e a vontade que se tem é de não mais parar. Na apresentação que faz dos argumentos aduzidos para sustentar seus pontos de vista,  calcados numa lógica insofismável, o santo segue uma linha de raciocínio tal que se torna difícil ao leitor contradizê-lo.

Além dos aspectos acima apontados, a beleza da escrita agostiniana encanta a cada trecho, a cada linha. Quase sempre, quando o tema é Maria, os escritores fazem vir a lume o que há de mais poéticos em si mesmos. Parece que apenas o intuito de escrever sobre a Virgem Maria já constitui garantia suficiente de que dali brotará um texto poético. No caso de santo Agostinho, o leitor que se permitir o prazer de folhear o livro aqui comentado será agraciado com alguns textos de extrema beleza, como o que cito a seguir:

Exultem de gozo os homens! Exultem de alegria as mulheres! Cristo nasceu homem e nasceu de uma mulher. Nele, ambos os sexos estão dignificados. Que se voltem para o segundo homem todos os que haviam sido condenados com o primeiro (Adão). Uma mulher nos induzira à morte. Uma outra trouxe-nos a Vida. Dela nasceu um filho, semelhante à carne de pecado (Rm 83,). Assim, pois, não culpemos a carne, mas para que viva a natureza, morra a culpa. Pois nasceu sem pecado Aquele em quem devia renascer o que se achava na culpa (p. 84).

Autor: Vasco Arruda- Psicólogo, professor de História das Religiões e Psicologia da Religião.




Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Maio de 2017
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
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