quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

REPORTAGEM ESPECIAL CAPÍTULO GERAL EM ROMA


SOBRE O CAPÍTULO GERAL DA ORDEM DOS AGOSTINIANOS RECOLETOS

Discurso Prior Geral Papa Francisco

Santo Padre:

Nós, os Agostinianos Recoletos, estamos celebrando em Roma nosso 55º Capítulo Geral. Obrigado, Santidade, por nos receber nesta audiência. Agradecemos vosso magistério e serviço de caridade. Vosso testemunho evangélico e vossas palavras nos tocam o coração.

Somos uma Ordem com mais de quatro séculos de historia a serviço da Igreja, tanto no campo missionário quanto na pastoral paroquial e educativa. Somos 1.045 religiosos presentes em dezenove nações. Desejamos reviver o espírito de santo Agostinho e, como aqueles primeiros recoletos do século XVI, também nós, hoje, nos sentimos chamados a buscar aquilo que mais nos abrasa no amor a Deus e aos irmãos.

O capítulo geral anterior nos propôs o objetivo de revitalizar e reestruturar a Ordem para responder, a partir da identidade carismática, aos desafios da nova evangelização. Nestes seis anos, pedimos ao Senhor que nos infunda seu Espírito para discernir qual a sua vontade a nosso respeito e o quê a Igreja espera nós. Desejamos reorganizar a Ordem para que, partindo do encontro com Cristo, reavivemos com audácia o espírito contemplativo, comunitário e missionário do nosso carisma. Necessitamos avançar em processo de conversão pessoal, comunitário e pastoral.

Santo Padre, não tem sido fácil para nós. Somos conscientes de que, se não nos mudamos, pouca serventia terão os projetos de reestruturação. Posso vos dizer, ciente que este é o sentimento de muitos de meus irmãos, que, para nossa Ordem, seu pontificado está sendo providencial. Está nos sacudindo de nossas rotinas e do cômodo critério pastoral do «sempre se fez assim»; tem revelado nossas ambiguidades, nossos medos; e tem feito fissuras em antigas seguranças. Agora nos sentimos mais convencidos da nossa necessidade de partir do encontro com Cristo, de converter-nos, de mudar nossas pessoas e nossas estruturas. Vossa Santidade nos ensina e dá ânimo com vossas palavras e vossas obras. E não só isso. Também desperta o sentido profético de nossa vida e nos indica o estilo que devemos assumir como nosso: da simplicidade, audácia, alegria. E também de comunhão, permitindo que o Senhor, com a força de seu Espírito, nos una na comunidade e nos faça avançar na mesma direção, de maneira que nossas comunidades sejam, enquanto tais, evangelizadoras.

Propusemos como lema de nosso capítulo aquela oração que brotava do coração inquieto de santo Agostinho: “Toda minha esperança está em tua grande misericórdia; dá-nos, Senhor, o que mandas e manda o que queiras” (Confissões X, 40). Este Ano da Misericórdia é um chamado a abrir nosso coração.

Santo Padre, falai-nos claramente. Esperamos que nos orienteis e nos exorteis a ser coerentes para viver com alegria o carisma recebido, e para que nossas comunidades estejam ao serviço da Igreja, especialmente ao serviço daqueles que são mais pobres. Queremos estar próximo de tantas pessoas que pedem uma vida digna e também daqueles que têm uma profunda necessidade de Deus.

Pedimos vossa bênção para toda a família agostiniano-recoleta.

Rezamos por Vossa Santidade. Papa Francisco, contai conosco.


DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DO 55º CAPÍTULO GERAL DOS AGOSTINIANOS RECOLETOS

Queridos irmãos:

Dou-vos as boas-vindas e agradeço ao Padre Geral as amáveis palavras que me dirigiu em nome de toda a Família Agostiniana Recoleta. E como ele mesmo disse, para este 55º Capítulo Geral, tomaram como lema uma oração que sai do mais íntimo do coração de Santo Agostinho: “Toda nossa esperança está em tua grande misericórdia. Dá-nos o que mandas e manda o que queres” (Confissões, 10, 29, 40). Esta invocação nos conduz a ser homens de esperança, ou seja, com horizonte, capazes de colocar toda nossa confiança na misericórdia de Deus, conscientes de que somos incapazes de afrontar, somente com nossas forças, os desafios que o Senhor nos propõe.

Reconhecemo-nos pequenos e indignos; mas em Deus está nossa segurança e alegria. Ele jamais defrauda e é ele quem, por caminhos misteriosos, nos conduz com amor de Pai. Neste capítulo geral quiseram revisar e colocar ante Deus a vida da Ordem, com seus anseios e desafios, para que seja Ele quem lhes dê luz e esperança. Para buscar a renovação e o impulso, é necessário regressar a Deus e pedir-lhe: “Dá-nos o que mandas”.

Pedimos o mandamento novo que Jesus nos deu: “Que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 13, 34). É o que imploramos que Ele nos dê: seu amor, para sermos capazes de amar. Deus nos deu de muitas maneiras este amor; Deus sempre nos está concedendo este seu amor e se faz presente em nossa vida. Olhamos o passado e agradecemos por tantos dons recebidos. E este nosso percurso histórico o faremos conduzidos pelas mãos do Senhor, porque ele é quem nos dá a chave da interpretação. Não se trata de fazer história sem mais, senão de descobrir a presença do Senhor em cada acontecimento, em cada etapa da vida. O passado nos ajuda a retornar ao carisma e a saboreá-lo em toda sua jovialidade e inteireza.

Também nos dá a possibilidade de sublinhar as dificuldades que surgiram e como foram superadas, para poder enfrentar os desafios atuais, com o olhar em direção ao futuro. Este caminho percorrido com Jesus se tornará oração de ação de graças e purificação interior. A grata memória de seu amor em nosso passado nos impulsiona a viver o presente com paixão e de maneira cada vez mais corajosa; então sim poderemos pedir-lhe: “Manda o que queres”. Isto implica liberdade de espírito e disponibilidade. Deixar-se mandar por Deus significa que ele é o patrão de nossa vida e não há outro. E sabemos muito bem que, se Deus não ocupa o lugar que lhe corresponde, outros farão por ele.

E quando o Senhor está no centro de nossa vida tudo é possível; não conta nem o fracasso nem algum outro mal, porque ele é quem está no centro; ele é quem nos dirige. De modo especial neste momento, nos Ele pede que sejamos “criadores de comunhão”. Somos chamados a criar, com nossa presença no meio do mundo, uma sociedade capaz de reconhecer a dignidade de cada pessoa e de compartilhar o dom que cada um é para o outro. Com nosso testemunho de comunidade, viva e aberta ao que nos manda o Senhor, através do sopro de seu Espírito, poderemos responder às necessidades de cada pessoa com o mesmo amor com que Deus nos amou. Tantas pessoas estão esperando que saiamos ao seu encontro e as olhemos com a mesma ternura que experimentamos e recebemos da nossa familiaridade com Deus. Este é o poder que levamos; não o de nossos ideais e projetos próprios; senão a força de sua misericórdia que transforma e vivifica.

Queridos irmãos, vos convido a manter, com espírito renovado, o sonho de Santo Agostinho, de viver como irmãos “com um só coração e uma só alma” (Regra 1, 2), espelhando o ideal dos primeiros cristãos e sendo profecia viva de comunhão neste nosso mundo, para que não haja divisão, nem conflitos nem exclusão, mas reine a concórdia e promova o diálogo. Coloco sob o amparo de Nossa Mãe, a Virgem Maria, as intenções e projetos da Ordem, para que vos oriente e proteja. E não se esqueçam de rezar por mim, e transmitam minha benção a toda a família agostiniana recoleta.

Muito obrigado!


Papa FranciscoAudiência, 20 de Outubro de 2016


Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Dezembro de 2016
Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval Neves
Responsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SP
Site da Paróquiahttp://www.pnslourdes.com.br