CANONIZAÇÃO DA IRMÃ DULCE
Celebrações de canonização de Irmã Dulce serão em outubro no Vaticano e em
Salvador
Irmã Dulce será proclamada santa, pela Igreja
Católica, no dia 13 de outubro de 2019, em cerimônia presidida pelo Papa
Francisco, no Vaticano, às 10h (horário local).
O anúncio feito na manhã desta segunda-feira
(1º), pelo Santo Padre, foi comunicado quase que em tempo real, na capital
baiana, terra natal da beata, pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil,
Dom Murilo Krieger, no Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres. Ao lado de
Maria Rita Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), e
diante de jornalistas, religiosos, devotos, profissionais, moradores e
voluntários da instituição, Dom Murilo disse que a religiosa, conhecida como o
Anjo Bom da Bahia, “se tornará a primeira santa brasileira da nossa época”.
Oficialmente, ela passará a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres e terá como
data litúrgica o dia 13 de agosto.
Dom Murilo Krieger anunciou ainda dois outros
eventos referentes à cerimônia de canonização: a primeira missa em honra da
santa, que será realizada no dia 14 de outubro, às 10h, na Igreja de Santo
Antônio dos Portugueses, uma edificação do século XVII, em Roma, “em
agradecimento pelo dom de Irmã Dulce”; e o segundo momento, a celebração no
Brasil, em Salvador, dia 20 de outubro, às 16h, que irá reunir devotos e
admiradores da religiosa, em local ainda a confirmar.
Para o arcebispo, com seu exemplo, Irmã Dulce
“nos mostra que a santidade, em nosso tempo, é possível”, e que, assim como
ela, podemos “imitar o Salvador: o que caracteriza o trabalho de Irmã Dulce é o
amor que ela colocou no que fez junto aos mais necessitados”. Para Maria Rita,
sobrinha da beata, sua canonização reforça o compromisso “de defender a sua
obra”.
O milagre
Logo após o anúncio foi apresentado o homem
agraciado com o segundo milagre da Mãe dos Pobres. José Maurício Moreira, 50,
entrou do santuário, ao som da Ave-Maria, tocada pelo acordeonista Waldonys,
embaixador de Irmã Dulce, mostrando a imagem da religiosa que tinha nas mãos no
momento em que foi miraculado. “Passei 14 anos cego e voltei a enxergar no dia
10 de dezembro de 2014, graças a Irmã Dulce”, relatou referindo-se ao milagre
investigado e reconhecido pelo Vaticano.
Natural de Salvador, Maurício, aos 22 anos, teve
o diagnóstico de um glaucoma muito sério, descoberto tardiamente e já em estado
avançado.
O tratamento, que durou dez anos, não foi suficiente para impedir que
o nervo ótico – responsável pela comunicação com o cérebro – fosse destruído.
Desse modo, na virada do ano de 1999 para 2000, ele ficou totalmente cego de
ambos os olhos e assim permaneceu por mais de 14 anos.
Em 2014, já morando em Recife, Maurício teve uma
conjuntivite muito grave e sofrendo com fortes dores, pegou a imagem de Irmã
Dulce que pertencera a sua mãe, a colocou sobre os olhos e, com muita fé, fez
uma oração pedindo a intercessão do Anjo Bom para que aliviasse as dores da
conjuntivite. “Ao acordar, comecei a ver a minha mão. Entendi que Irmã Dulce
tinha operado um milagre. Ela me deu muito mais do que eu pedi: eu voltei a
enxergar”.
O segundo milagre validado pelo Vaticano passou
por três etapas de avaliação: uma reunião com peritos médicos (que deram o aval
científico), com teólogos, e, finalmente, a aprovação final do colégio
cardinalício, tendo sua autenticidade reconhecida de forma unânime em todos os
estágios.
Uma graça só é considerada milagre após atender
a quatro pontos básicos: a instantaneidade, que assegura que a graça foi
alcançada logo após o apelo; a perfeição, que garante o atendimento completo do
pedido; a durabilidade e permanência do benefício e seu caráter preternatural
(não explicado pela ciência).
O processo de Canonização de Irmã Dulce é o
terceiro mais rápido da história (27 anos após seu falecimento), atrás apenas
da santificação do Papa João Paulo II (9 anos após sua morte) e de Madre Teresa
de Calcutá (19 anos após o falecimento da religiosa).
Processo de canonização
A causa da Canonização de Irmã Dulce foi
iniciada em janeiro de 2000. Em abril de 2009, o Papa Bento XVI reconheceu as
virtudes heroicas da Serva de Deus Dulce Lopes Pontes, autorizando oficialmente
a concessão do título de Venerável à religiosa.
O título é o reconhecimento de que Irmã Dulce
viveu, em grau heroico, as virtudes cristãs da fé, esperança e caridade. Em
outubro de 2010, a Congregação para a Causa dos Santos, através de voto
favorável e unânime de seu colégio de cardeais e bispos, atestou a
autenticidade do primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce, cumprindo, dessa
forma, a última etapa do processo de beatificação.
O referido milagre ocorreu na cidade de Itabaiana,
em Sergipe, quando, após dar à luz seu segundo filho, Gabriel, em 11 de janeiro
de 2001, Claudia Cristina dos Santos sofreu uma forte hemorragia, durante 18
horas, tendo sido submetida a três cirurgias na Maternidade São José. Diante da
gravidade do quadro, o obstetra Antônio Cardoso avisou a família que apenas
“uma ajuda divina” poderia salvar a vida de Cláudia.
Em desespero, a família da miraculada chamou o
padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. O padre, no entanto,
decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu
a Cláudia uma pequena relíquia da Bem-Aventurada. A hemorragia cessou
subitamente. O caso de Cláudia foi analisado por dez peritos médicos
brasileiros e seis italianos. Segundo o médico Sandro Barral, um dos
integrantes da comissão científica que analisou o milagre, “ninguém conseguiu
explicar o porquê daquela melhora, de forma tão rápida, numa condição tão
adversa”.
O milagre passou por três etapas de avaliação:
uma reunião com peritos médicos (que deram o aval científico), com teólogos, e,
finalmente, a aprovação final do colégio cardinalício, tendo sua autenticidade
reconhecida de forma unânime em todos os estágios.
Já no dia 10 de dezembro de 2010, o Papa Bento
XVI autorizou a promulgação do decreto do primeiro milagre. Irmã Dulce foi
então beatificada no dia 22 de maio de 2011, em cerimônia realizada no Parque
de Exposições de Salvador, reunindo mais de 70 mil pessoas. Na ocasião, a
freira baiana foi coroada como a primeira beata nascida na Bahia e passou a se
chamar Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo o dia 13 de agosto como data
oficial de celebração de sua festa litúrgica. Faltava apenas a validação de um
segundo milagre para que a religiosa fosse então canonizada.
Caminho de bem-aventuranças
Em 26 de maio de 1914 nasce, na cidade de
Salvador, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Segunda filha do dentista
Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, a menina que
gostava de soltar pipa e jogar futebol manifesta o interesse pela vida
religiosa no início da adolescência, quando, aos 13 anos de idade, já atendia a
doentes no portão de casa, no bairro de Nazaré.
É nessa época que sua casa fica conhecida como A
Portaria de São Francisco’, tal a aglomeração de desassistidos. Em 1933, a
jovem ingressa na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da
Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe).
No mesmo ano, recebe o hábito e adota, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã
Dulce.
A religiosa inicia um trabalho assistencial nas
comunidades carentes em 1935, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que
se consolidara na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época,
começa a atender também aos operários – que eram numerosos naquele bairro –
criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco –
primeira organização operária católica do estado, embrião do Círculo Operário
da Bahia.
Em 1939, Irmã Dulce invade cinco casas na Ilha
dos Ratos, para abrigar doentes que recolhia nas ruas de Salvador. Expulsa do
lugar, ela peregrina durante uma década, levando os seus doentes por vários
locais da cidade. Por fim, em 1949, Irmã Dulce ocupa um galinheiro ao lado do
Convento Santo Antônio, após autorização da sua superiora, com os primeiros 70
doentes. A iniciativa deu origem à tradição propagada há décadas pelo povo
baiano de que a freira construiu o maior hospital da Bahia a partir de um
simples galinheiro. Já em 1959, é instalada oficialmente a Associação Obras
Sociais Irmã Dulce.
Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992,
aos 77 anos, no Convento Santo Antônio, ao lado de seus doentes, por quem tanto
lutou. Túmulo definitivo do “Anjo Bom do Brasil”, a Capela das Relíquias –
local para onde seus restos mortais foram transferidos – está aberta à
visitação durante todos os dias, das 7h às 18h. A capela fica no Santuário de
Irmã Dulce, na Avenida Dendezeiros do Bonfim (no bairro do Bonfim), em
Salvador.
As Obras Sociais Irmã Dulce
As Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) nasceram no
dia 26 de maio de 1959, tendo como sua fundadora a freira baiana Irmã Dulce,
conhecida como o Anjo Bom da Bahia. Atualmente, a entidade filantrópica abriga
um dos maiores complexos de saúde 100% SUS do País, com cerca de 3,5 milhões
de procedimentos ambulatoriais realizados por ano na Bahia a usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS), idosos, pessoas com deficiência e com
deformidades craniofaciais, pacientes oncológicos, pessoas em situação de rua,
usuários de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes em situação de
risco social.
A organização conta com um perfil de serviços
único no Brasil, distribuídos em 21 núcleos que prestam assistência à população
de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica,
Ensino em Saúde, Educação e na preservação e difusão da história de sua
fundadora.
Também conhecida como Complexo Roma, a sede das
Obras em Salvador abriga, em seus mais de 40 mil metros quadrados de área
construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos
hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas. Desses
núcleos, 19 apresentam atuação no campo da Saúde, a exemplo do Hospital Santo
Antônio, Centro Geriátrico, Hospital da Criança, Unidade de Alta Complexidade
em Oncologia, Centro de Acolhimento à Pessoa com Deficiência e Centro
Especializado em Reabilitação e do Centro de Acolhimento e Tratamento de
Alcoolistas. Somente no Complexo Roma são contabilizados por ano cerca de 2,2
milhões de procedimentos ambulatoriais – mais de 60% do volume alcançado por
toda a organização no estado. Ainda na capital baiana, na sede das Obras
Sociais, local que atende diariamente cerca de 2 mil pessoas, são realizadas
por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos.
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Outubro de 2019Compilação e Edição: Sérgio BonadimanRevisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOMParóquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SPSite da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br