Como “bem” usar a Bíblia na catequese?
A Bíblia é uma carta de amor
que Deus revelou ao seu povo, com o qual Ele fez aliança. Por isso, é
fundamental que a Bíblia seja conhecida. E, sobretudo, os(as)
catequistas devem ler e conhecer a Palavra de Deus, pois ela é a base principal
em que se fundamenta a nossa fé.
A missão dos(as) catequistas é
ensinar e transmitir a mensagem de Deus. Catequese é “fazer ecoar” o Evangelho,
a boa notícia de Deus. O Apóstolo Paulo, de fato, questiona: “Como podem crer
naquele que não ouviram?” (Rm 10,14). Por isso é necessário pregar,
anunciar, ensinar, pois “a fé vem pela pregação e a pregação é pela palavra de
Cristo” (Rm 10,17).
Então, para que os(as) catequistas
possam amar e utilizar bem a Palavra de Deus é preciso que a conheçam! É certo
que a Bíblia é um conjunto de 73 livros e que levou mais de mil anos
para ser escrita. O último livro foi concluído há quase dois mil anos. Os
contextos, isto é, a realidade em que os livros foram escritos é diferente do
mundo de hoje; a Bíblia foi escrita em outras línguas (hebraico e
grego). E então surge uma questão que é complexa: conhecer a Bíblia é
fácil e é ao mesmo tempo também difícil.
Na Bíblia há textos difíceis…
É certo que alguns textos são
difíceis de serem compreendidos hoje. E até a própria Bíblia nos diz que
há passagens difíceis. O autor da segunda Carta de Pedro, ao falar das Cartas
de Paulo, reconhece que “há pontos difíceis nelas” (2Pd 3,16); o eunuco
que em sua carruagem lia o livro do Profeta Isaías precisou da ajuda de Filipe
para entender o significado da passagem (At 8,26-35); o Profeta Daniel
esforçava-se para poder entender uma passagem da Escritura (Dn 9,2); Orígenes,
um dos maiores exegetas bíblicos da história, afirmou: “Quando alguém lê os
Evangelhos, ou o Apóstolo, ou os Salmos, os acolhe contente, os abraça e logo
agradece, como recolhendo desses um remédio para a sua enfermidade; porém se a
ele se lê o livro dos Números, e especialmente os passos que ora temos em mãos
(Nm 33), pensará que não lhe servem a nada, não valem como medicina à
sua enfermidade para a saúde da alma” (Homilia 27,1). São alguns
exemplos da dificuldade para ler e entender a Palavra de Deus.
Mas a Bíblia é fácil…
No entanto, a Palavra de Deus
continua se “remoçando” (Dei Verbum 24), isto é, se tornando nova,
palavra atualizada, palavra viva que “permanece para sempre” (1Pd 1,25).
O Padre Zezinho tem uma bela canção, cuja letra diz: “Dai-me a palavra certa,
na hora certa, do jeito certo e pra pessoa certa”. Se há textos difíceis na Bíblia
(são poucos), devemos escolher os textos certos para o momento certo e para as
pessoas certas. O Profeta Jeremias escreve dando o seu testemunho: “Quando se
apresentavam as Tuas palavras, eu as devorava; elas eram para mim um
contentamento e alegria do meu coração” (Jr 15,16).
Certa vez fui visitar uma catequista
enferma no hospital e ela me pediu uma palavra da Bíblia. Li para ela Is
35,3-4: “Fortaleçam as mãos cansadas; firmes os joelhos cambaleantes. Digam aos
corações desanimados: sejam fortes! Não tenham medo! Eis o vosso Deus, Ele vem
para redimir; Ele traz um prêmio divino, Ele vem para salvar vocês!”. Ela
abraçou a Bíblia e aquelas palavras foram como um bálsamo para a sua
alma.
Os(as) catequistas precisam “entrar”
dentro da Bíblia; conhecê-la, descobri-la. Encontrar a palavra certa para
a hora certa.
Encontrar-se com a Palavra que é
Jesus, “o Verbo (Palavra) que se fez carne e habitou entre nós!” (Jo
1,14). O melhor jeito de conhecer Jesus é pela leitura dos Evangelhos, usando
um método certo. Encontrar-se com Jesus, descobrir quem Ele é, o que Ele fez; o
que foi que Ele ensinou; apaixonar-se por Ele e Sua proposta… E então dar
testemunho. Esta é a melhor catequese: transmitir o que se vive, testemunhar a
fé com a própria vida. Mostrar que a espiritualidade catequética é bíblica, que
é fundamentada na Palavra de Deus.
Alguns pontos-chave e orientações
– Amar a Palavra de Deus. Para isso é
preciso conhecê-la, estudá-la, vivê-la, dar testemunho…
– Iniciar sempre a leitura e estudo
da Palavra de Deus com a invocação do Espírito Santo. Foi o Espírito Santo que
inspirou a escrita da Palavra e também nos guiará na nossa interpretação.
– Praticar a leitura orante da Bíblia,
de preferência todo dia. Escolher um texto, ler, meditar, contemplar, agir…
Pode ser uma frase, um versículo…
– Ter uma Bíblia de estudo. Eu
sugiro o uso do giz de cera colorido. Anotar as frases mais bonitas e mais
importantes. Ver palavras e ideias que se repetem num texto. Uma Bíblia
de estudo não é caderno de anotações, mas precisa nos ajudar a encontrar facilmente
as passagens mais importantes e também a identificar os textos-chaves.
– Para conhecer também é necessário
estudar. Portanto, os(as) catequistas devem aproveitar e participar dos cursos
de formação que as paróquias e dioceses oferecem.
– A Palavra de Deus deve nos levar a
conhecer e amar Jesus Cristo. Devemos nos apaixonar, sentir com o coração e
viver a mensagem que Ele nos transmitiu.
– É lendo a Bíblia que nós
também vamos conhecer melhor a nossa Igreja, fundada por Jesus Cristo, guiada
pelo Espírito Santo.
– Ler e interpretar a Bíblia
junto com a tradição da Igreja, como nos ensina a Constituição Dogmática Dei
Verbum do Concílio Vaticano II.
– A Bíblia não pode servir
para discutir com pessoas de outras igrejas. Ao contrário, quando possível
devemos praticar o ecumenismo e o respeito para com as outras igrejas.
– Evitar a leitura fundamentalista da
Bíblia, a leitura ao “pé da letra”, este tipo de leitura é o suicídio do
pensamento. Evitar interpretações particulares e que causam divisões (2Pd
1,20).
– A Palavra de Deus deve entrar em
nossa vida como a semente boa que cai em terra boa. Ela deve produzir bons
frutos. Por isso os bons catequistas são aqueles que “tendo ouvido a Palavra
com coração nobre e generoso, conservam-na e produzem fruto pela perseverança”
(Lc 8,15).
– Que os(as) catequistas levem a Bíblia
às aulas de catequese e façam uso dela, demonstrando que conhecem e usam a
Palavra de Deus.
– Sentir alegria por estar ensinando
a Palavra de Deus. Jesus nos disse que: “Quem praticar e ensinar mesmo o menor
dos mandamentos será considerado grande no Reino dos Céus” (Mt 5,19).
– Respeitar as etapas e as idades em
que se encontram os(as) catequizandos(as). Escolher passagens bíblicas que
falem de crianças, da família, da bondade de Jesus; que mostrem um rosto de
Deus próximo das crianças, dos jovens e da realidade em que vivem as pessoas
que estamos catequizando.
Conclusão
Hoje vivemos um tempo de graça de
Deus na caminhada da Igreja. Na Conferência de Aparecida, os bispos pediram que
“toda a pastoral seja animada pela Palavra de Deus” (DAp 248), o que foi
reafirmado pelo Papa Bento XVI na Verbum Domini (VB 73). A
catequese vive este momento novo e belo. Jesus nos ensinou que “a árvore se
conhece pelos seus frutos” (Lc 6,44).
A catequese também dará bons frutos
para o povo de Deus quanto mais for fundamentada e alimentada pela Palavra de
Deus. O Apóstolo Paulo escreve que nós somos “servidores” e “cooperadores” no
projeto de Deus (1Cor 3,5.9). Os(as) catequistas têm essa missão de
serem colaboradores semeando, regando e trabalhando para que a Palavra de Deus
possa crescer e produzir bons frutos.
Frei Ildo Perondi
Jornal Online “A Voz de Lourdes” – Setembro de 2019Compilação e Edição: Sérgio Bonadiman - Revisão e Publicação: Dermeval NevesResponsabilidade: PASCOM Paróquia Nossa Senhora de Lourdes - Vila Hamburguesa – SPSite da Paróquia: http://www.pnslourdes.com.br